ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Entre os muros da escola e O garoto selvagem: a experiência de educar |
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Autor | Adriana Mabel Fresquet |
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Resumo Expandido | Para a última aula de orientação ao trabalho pessoal, eu lhes pedi uma lista de vinte coisas aprendidas na sétima série. Vinte coisas que eles não conheciam e agora conheciam. Eles começaram trabalhar sem mais explicações. Passando pelas fileiras, estendendo o pescoço por cima dos ombros, percebi que estavam seguindo apenas parcialmente as instruções. (Bégaudeau, 2009, p. 247).
Na mais vagabunda horda selvagem bem como na mais civilizada nação da Europa, o homem é apenas o que o fazemos ser; necessariamente criado por seus semelhantes, ele contraiu-lhe os hábitos e as necessidades, suas idéias já não são dele, usufrui a mais bela prerrogativa de sua espécie, a suscetibilidade de desenvolver seu entendimento pela força da imitação e pela influência da sociedade. (Itard, 2000 [1807]; p. 125). Este trabalho propõe uma reflexão sobre a experiência de educar a partir de dois filmes que enquadram épocas e situações bem diferenciadas histórica e pedagogicamente. Em um caso, trata-se de educar a um garoto com hábitos selvagens, sem o uso da palavra, nas florestas do sul da França na virada do século XVIII para o XIX. Em outro, trata-se de educar um grupo de alunos de diferentes culturas com dificuldades individuais e sociais de integração, que disputam o espaço físico, o direito à fala, espelhando o cotidiano praticamente de qualquer sala de aula hoje. Como em 28 de dezembro de 1895, no “Grand Café”, o realismo da sala de aula de François Bégaudeau produz o mesmo impulso de fuga nos seus espectadores-professores, que diariamente lotam as salas de cinema desde o dia da estréia. Desta vez não é um trem que os ameaça, mas sim o mistério da (im)possibilidade de uma vivencia tão velha quanto a humanidade: a educação. A escolha dos filmes confronta os limites de educar e o sentimento de impotência e perplexidade dos professores como característica comum. Educar é acompanhar o outro correndo os mesmos riscos, afirma Serge Daney. Educar o outro, talvez, seja o gesto mais complexo de alteridade da condição humana. Saint Exupery e Alain Fourier nos lembram: todos nós pertencemos ao país da nossa infância, a esse país das sensações intactas, (...) Junto a nossos primeiros anos de existência, nós resumimos e restituímos sem saber 5 milhões de anos de uma história laboriosa (AYALA e GUÉNO, 1999, p. 9). Para possibilitar esse resumo e restituição sempre há um outro, que com intencionalidade endereça o olhar e o agir de cada novo e pequeno protagonista da cultura. A educação precisa ser pensada a partir dos conceitos de ruína e utopia que Benjamin já propusera. O cinema transforma essa reflexão numa vivencia plena de sensações e sentimentos que ativam a imaginação para pensar uma outra educação. |
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Bibliografia | AYALA, Roselyne de et GUÉNO, Jean-Pierre. L´enfance de l´Art. Les plus beaux manuscrits d´enfants. Paris: Éditions de La Martinière, 1999.
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