ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | A Raiva – o poeta revoltado anuncia o fim da história |
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Autor | Maria Rita Aguilar Nepomuceno de Oliveira |
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Resumo Expandido | O filme foi realizado sob encomenda. A proposta: um filme feito a partir de noventa mil metros de “Mondo Libero” – o cinejornal dos anos da Guerra Fria confeccionado pelo produtor de La Rabbia – e de materiais de outros cinejornais. Pasolini expressa de forma assertiva juízos e “verdades trágicas” sobre os eventos sociais da realidade histórica dos anos 60.
O artigo pretende investigar, através da conceitualização de Albert Camus, as afirmativas poéticas e políticas de Pasolini no filme. Apenas no fim da história poderia haver a reconciliação, no horizonte da modernidade, entre a hegemonia da revolta histórica niilista e a revolta metafísica, que é a revolta do poeta? A revolta afirma o humanismo a que a revolução teria negado? A morte de um indivíduo se justifica pela afirmação de um valor? Essas questões, levantadas por Camus, também são as que estruturam a narrativa de Pier Paolo Pasolini. No filme, a repetição de imagens pictóricas, o zoom sobre as fotografias, a escolha das cenas, as vozes em off – alternando o texto poético à locução jornalística, também criada por Pasolini – são intercaladas ao movimento labial de personagens históricos, falseando a ficção, a ambientação e dramatização dos eventos de guerra, de assembléias, de ritos sociais... Através de Pasolini, a cobertura jornalística ganha o tempo, o ritmo e a densidade de uma narrativa que ambienta, explica e confirma o terror e a esperança do poeta diante do paradoxo entre o sentimento de revolta e a idéia de revolução. Transformando este conflito em experiência poética e de redenção do humano. Contemplando o chapéu da bomba atômica que se abre sobre o céu, a locução em off diz: “Quando o mundo clássico estiver exaurido, quando estiverem mortos todos os camponeses e artesãos, quando a indústria tiver tornado incontrolável o ciclo da produção e do consumo, então a nossa história terá acabado. Nesses urros, nessa imensas assembléias, nessas luzes, nesses mecanismos, nessas declarações, nesses exércitos, nessas armas, nesses desertos, nesse irreconhecível sol, começa a nova Pré-história”. Desde as guerras de independência até Sophia Loren na Itália, passando pelo enterro do Papa e pelos protestos anti-comunistas em Paris e Madrid - em que segundo a voz poética “os crimes de Stalin são os nossos crimes” - o filme chega à posse de Krusciov na Rússia, a quem o diretor parece endereçar a mensagem final: “Companheiros e inimigos, homens políticos e poetas, a revolução quer apenas uma guerra, aquela de dentro dos espíritos que abandonam ao passado, as velhas, sangüinárias estradas da Terra”. Através dessa mensagem, ficticiamente vinda de um astronauta que acaba de dar à volta na Terra, e anunciada pela locução poética, o poeta parece apontar para a falha trágica da alma como causa das tragédias históricas da modernidade. E se posicionar no paradoxo tratado por Camus em sua história da revolta. |
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Bibliografia | CAMUS, Albert. O homem revoltado. Rio de Janeiro: Record, 2008.
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