ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Procedimentos contaminados: o pos-dramático no teatro e no cinema |
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Autor | Maria Thereza de Oliveira Azevedo |
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Resumo Expandido | A proposta desta comunicação é refletir, do ponto de vista do teatro pós- dramático de Hans-Thies Lehmann, sobre o cinema híbrido ou pós-cinema que tem como interface as artes visuais. Além das artes visuais, este cinema ao vivo, transcinema, cinema expandido ou cinema instalação, em alguns casos, tem uma relação direta com o teatro pós-dramático, no sentido das misturas heterogêneas, fragmentação, desconstrução. O eixo que guia o trabalho são os procedimentos de transferências e deslocamentos que ocorrem no teatro contemporâneo que o caracterizam como teatro pós-dramático e a observação de procedimentos semelhantes no cinema expandido ou híbrido, de montagem aberta . O teatro sempre teve relação com o cinema pelo viés do drama que os tornava reféns do texto, o chamado “textocentrismo”, que no teatro pós-dramático o culto é o seu abandono. Para conceituar o teatro pos- dramático Lehmann analisa os procedimentos de dramaturgos como Heiner Muller, Robert Wilson Tadeuz Kantor realizadores de um teatro experimental . As cenas de Kantor, segundo Lehmann, manifestam a recusa da representação dramática dos demais processos dramáticos que o teatro tem por objeto em favor de uma poesia de imagens em movimento.
“O teatro pos dramático exerce um deslocamento da percepção teatral –para muitos provocativa- do deixar –se levar no fluxo de uma narração para uma co-realização construtiva de todo o complexo audiovisual do teatro.(...) Há casos em que autores como o grupo dinamarques Von Heiduck incorporam a ilusão cinematográfica.” (LEHMANN 2008) A discussão do entrecruzamento entre teatro e cinema no âmbito do teatro pós-dramático é uma via de mão dupla, as contaminações ocorrem dos dois lados incluindo aí as artes visuais. Tanto o teatro pos-dramático, na sua junção de heterogêneos inclui o audiovisual no contexto teatral como a experiência de ralentamento da imagem de Robert Wilson, ou a inclusão de um operador de câmera na própria cena, assim como no cinema ao vivo ou cinema de galerias e museus em que ocorre uma teatralização. Tanto as vanguardas do teatro como as vanguardas do cinema experimentaram uma multiplicidade de procedimentos na busca de outra forma de percepção. Essas experiências sensoriais através da imagem foram realizadas por Maya Deren nos anos 1940, como as ideias de Stan Brakhage, a busca de um olhar sem corpo, as experiências com a câmera de Abel Gance, Buñuel e seu cinema surrealista, Tarkovsky ou Peter Greenaway que, na atualidade manipula, ao vivo, fragmentos de filmes. Filme-instalações, cinema ao vivo, montagem aberta, dispositivos cinéticos, teatro cinematográfico, teatro midiático, se apresentam como uma forma de arte contemporânea. São processos multifacetados, territórios mestiços afastados do dramático. O que interessa, neste caso, são os sistemas de agenciamento dos sentidos. |
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Bibliografia | DELEUZE, G. e GUATTARI, F. “Percepto, afecto e conceito”. O que é a filosofia? São Paulo, Ed. 34, 1992 (Tradução Bento Prado Jr. e Alberto Alonso
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