ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Cinema e Sentidos: como a visualidade interfere no corpo do espectador |
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Autor | Marcela Ribeiro Casarin |
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Resumo Expandido | Uma poesia destinada aos sentidos. Inspirado no teatro oriental era assim que Antonin Artaud preconizava a criação da linguagem (RAMOS, p. 184), colocando o corpo do homem como o princípio fundamental da arte: denunciando um teatro digestivo que rejeita a supremacia da palavra e que insere ator e platéia no mesmo processo simultâneo de troca, êxtase e criação.
Precursor não apenas do teatro, mas de todo o processo comunicacional que percebemos nas artes e sociedade contemporânea, Artaud é a inspiração deste trabalho, que busca entender as afetações do corpo pelas artes – neste caso, o cinema. Ainda, a inserção de novas tecnologias também altera o panorama da criação artística e dos processos comunicacionais. E como, segundo Mcluhan, a evolução tecnológica propicia o aprimoramento de novas capacidades, tal interferência não pode ser ignorada neste estudo. Jacques Ruffie, em O Mutante Humano, também atenta para o desenvolvimento de novas propriedades cerebrais, a partir de aparatos tecnológicos (PEREIRA, 2002), ativando sensorialidades adormecidas. Assim, propomos pensar o atual corpo, e suas afetações a partir da ativação pelas tecnologias, buscando quais são as condições materiais que atuam nas funções corporais e de que forma isso acontece. Estas sensorialidades, de acordo com a Teoria das Materialidades são “aptidões cognitivas que um corpo pode conquistar ao entrar em contato com uma determinada expressão da cultura” (PEREIRA, 2006, p. 98), atuando como uma memória corporal, que arquiva as ações que o corpo deve apresentar perante determinado estímulo/experiência sinestésica. Uma dessas ações observadas é a Afetividade: o desejo, não racional, de se aproximar, tocar, imergir em um determinado objeto ou situação. Esta reação “tátil” demonstra a busca do corpo por respostas mais adequadas, arquivando-as no seu repertorio sensorial. (ibid, p. 99). Colocar a mão em concha sobre o ouvido, para ouvir melhor; apertar os olhos para enxergar o que está longe ou pequeno; virar o rosto para uma cena grotesca: são algumas dessas reações espontâneas e corpóreas para decodificar a mensagem. Procurando uma delimitação que possa tornar o trabalho mais objetivo, optamos por pesquisar a visualidade no audiovisual contemporâneo, observando sua relação com as demais sensorialidades, recém-despertas. Afinal, a visualidade, como o sentido mais abstrato e, segundo Debord, mais fácil de ser enganado, é o plano onde as reações podem ser mais facilmente observadas – além de ter sido a sensorialidade predominante desde o surgimento da Escrita. E inúmeros exemplos saltam aos olhos: os blockbusters apelam cada vez mais para recursos que, partindo da própria visualidade, conseguem extrapolá-la com efeitos realistas e interferências no próprio modo de ver a imagem – como o 3D, que confere profundidade de campo e a impressão de massa real aos objetos e atores. No Brasil tais experimentos ainda são limitados. Porém já podemos perceber algumas tentativas de modificação nas linguagens audiovisuais, em busca de sensações que ultrapassem o visual. Por isso propomos uma breve análise, que considera também pontos destacados pela crítica, de dois produtos audiovisuais brasileiros recentes: a microssérie “Capitú”, de Luiz Fernando Carvalho e o filme “Ensaio sobre a Cegueira”, de Fernando Meirelles. Apesar de aparentemente diversos, uma breve análise de ambos os produtos esboçam duas hipóteses iniciais: A busca das mídias “tradicionais” pela ativação de novas sensorialidades foi originada pela procura dos espectadores por ambientes multisensoriais? Ou, ao contrário, foi esta primeira exposição, nas mídias “tradicionais”, a processos estimuladores de sensorialidades, que está levando os espectadores a buscarem estímulos maiores? E ainda, é possível que esta exposição esteja modificando a estrutura neural, estabelecendo novas afetividades, e permitindo que tais sensações sejam detectadas com maior facilidade, mesmo em ambientes midiáticos tradicionais? |
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Bibliografia | DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Contraponto. Rio de Janeiro, 1997.
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