ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Travelogue, Cavação e Pitoresco no Documentário Silencioso Brasileiro |
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Autor | Sheila Schvarzman |
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Resumo Expandido | Neste ano, vários pesquisadores, depois de seis anos de observação de filmes silenciosos brasileiros do acervo da Cinemateca Brasileira,- em sua maioria de não ficção - optaram por se aprofundar sobre o filme de viagem, uma vez que muitos dos filmes assistidos revelaram reiterações temáticas e formais apontando no sentido da viagem como um dos formatos ou objetos privilegiados de filmagens no período silencioso.
Gostaria de trabalhar, o travelogue – gênero internacional do filme de viagem - observando, a partir de Brasil Pitoresco:Viagens De Cornélio Pires de 1925 – características e sua aclimatação no Brasil. Como o filme representa o outro, e o país que denomina ‘pitoresco’. Que diálogos estabelece com a tradição pictórica romântica, ou a herança fotográfica que se desdobra no cartão postal a partir do século XIX. Num segundo momento, observar também as relações com a literatura, sobretudo a dos viajantes estrangeiros que forjaram matrizes da identidade e das representações nacionais (SUSSEKIND, 1990). Pouco ou nada estudado entre nós, mas copioso no cinema internacional e mesmo no Brasil – quer pelo que se exibia de fora, quer pelo que se produzia internamente, o gênero nos impõe um deslocamento: através da bibliografia francesa ou anglo-saxã, somos levados a pensar a produção e circulação de suas imagens num universo de desenvolvimento capitalista urbano, industrial e maquinal, onde a existência de barcos a vapor, de um incipiente turismo, de extensa produção literária e pictórica e algum público leitor burguês haviam consolidado formas de exotismo que correspondiam nos países europeus à afirmação e vivência do colonialismo (PETERSON, 1998. SAID, 2007) do qual as imagens dos travelogues eram parte constitutiva e onde faziam sentido. De que maneira essas formas e representações poderão ser lidas e traduzidas entre nós? De que maneira aquelas referências farão sentido num filme que se conduz a partir de um diretor/conferencista que é ao mesmo tempo paulista e “caipira” e que se propõe a conduzir o público por um Brasil ‘pitoresco’, indo de São Paulo ao Alagoas? Quem é Cornélio Pires? De que lugar fala e que significados o seu personagem de ‘folclorista’ agrega ao filme? Sendo assim, gostaria, através da viagem de Cornélio Pires, de apontar algumas das características do gênero e a forma que receberam nesse filme, no ano de 1925 em São Paulo, onde foi produzido e apresentado com sucesso de público. De que maneira construiu o que chama de pitoresco e que proximidade esse epíteto estabelece com o regionalismo no qual se inseria Cornélio Pires. Como esse pitoresco se traduz em imagens cinematográficas? Por outro lado, é bom lembrar, esse tipo de filmes era muito mal visto por críticos como Adhemar Gonzaga e Pedro Lima, jovens jornalistas citadinos e liberais que começavam a esboçar, nesse momento, a partir do Rio de Janeiro, em suas colunas cinematográficas de Paratodos e Seleta, a Campanha pelo Cinema Brasileiro, onde indicavam aos realizadores iniciantes que produziam filmes pelo Brasil, a maneira correta de ‘enquadrar’ o país. (SCHVARZMAN,2000, cap.1). Para eles, a natureza, atividades econômicas agrárias, imagem de trabalhadores e, sobretudo, negros, constituía o atraso e deveriam ser evitadas, se não proibidas. Desse ponto de vista, essa visão da construção de imagens nacionais “corretas” chocava-se com o exotismo buscado pelo travelogue tal como se desenvolveu na Europa e nos Estados Unidos (PETERSON, 1998, ) O gosto pela diferença, que atraía o olhar europeu a formas anteriores ao desenvolvimento capitalista, formas de um mundo colonial exótico e ainda ‘encantado’ era algo a se evitar por aqui, na visão daqueles que procuravam inserir o Brasil na modernidade. É na tensão entre esses vários dados culturais e sociais que vamos encontrar a produção e realização cinematográfica, bem como a recepção dessas imagens. |
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Bibliografia | BANCO DE DADOS DA CINEMATECA http://www.cinemateca.gov.br/htm/filmografia/filmografia.html último acesso: 18/7/2006
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