ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O “outro” transnacional: crianças de rua no cinema contemporâneo |
|
Autor | João Luiz Vieira |
|
Resumo Expandido | Num regime de economia transnacional testemunhamos de forma radical as conseqüências da interdependência entre todos os países, sejam eles hegemônicos, emergentes ou subdesenvolvidos, desconstruindo polarizações mais antigas e simplistas entre, por exemplo, o Norte “desenvolvido” e o Sul “subdesenvolvido”. Num momento dramaticamente marcado por sintomas que apontam para distopias contemporâneas—níveis insuportáveis de desemprego, ascensão do narcotráfico, trabalho escravo infantil, prostituição e turismo sexual nos trópicos, entre outros— estes são alguns dos sintomas que imprimem verossimilhança à representação das doenças sociais e outras formas de violência no cinema contemporâneo internacional. Pensando a via de mão dupla entre o nacional e o transnacional afirmo que o destino de crianças de rua me parece, hoje, caracterizar-se como um dos mais eloqüentes sintomas que apontam para os tempos distópicos do presente e do futuro imediato. A partir de filmes como Los Olvidados (1950), de Buñuel, Pixote (1980), de Babenco, Salaam Bombay (1988), de Mira Nair, Cidade de Deus (2003) de Fernando Meireles, Ninguem pode saber (2004), de Koreeda e até último sucesso international nessa linha de filmes, o oscarizado Quem quer ser milionário? (2008), de Danny Boile, platéias globalizadas vem se familiarizando com o seu “outro” social a ponto de confundir determinadas situações apresentadas nestes e em tantos outros filmes como típicos cenários do chamado Terceiro Mundo. Esses outros contextos sócio-econômicos estão de tal forma disseminados que materializam a afirmação que proclama a co-existência de um Primeiro Mundo em cada Terceiro Mundo e vice-versa.Sob a aparência formal de um realismo documental, boa parte dos filmes tratados neste trabalho antecipa metrópoles latino-americanas, sejam elas São Paulo, Rio, Buenos Aires, Bogotá ou México, como intercambiáveis, com seus protagonistas funcionando como sujeitos excluídos de quaisquer outras metrópoles como Los Angeles, Chicago, Detroit, as periferias de Paris, Londres, Tóquio. Algumas perguntas levantadas nesta comunicação, dizem respeito a: analogias entre arte e política na paisagem contemporânea transnacional; a densa rede de conexões que cruzam comunidades, sociedades e nações em termos de raça, gênero, sexualidade, religião e outros eixos importantes de identidade; o apagamento e a negociação de binarismos como eu/outro, interior/exterior/, rural/urbano, criança/adulto; as estratégias retóricas que são convocadas em alguns dos filmes para nuançar a representação dos chamados sujeitos terceiro-mundistas como o “outro”; a evidência e o impacto de uma linguagem e estética transnacionais que hoje tornaram-se hegemônicas na produção e consumo dessas representações (fotografia estourada; colorido "quente"; filmagens em locações; parte do elenco formada por não-profissionais; edição frenética, etc.). Como exemplo maior dessa influência, destacaremos alguns exemplos de um cinema realizado hoje nas Filipinas e que, influenciado pelo sucesso local e internacional de Cidade de Deus (e, posteriormente de Cidade dos Homems e Tropa de elite), são chamados de "favela situation films", como, por exemplo,The Blossoming of Maximo Oliveros (dir. Auraeus Solito, 2005); The Debt Collector (dir.Jeffrrey Jeturian, 2006); Sling Shot (dir. Brillante Mendoza, 2007) e Tribu (dir. Jim Libirian, 2007). Esse termo genérico "favela situation films" associa-se a outro também na mesma linha, "favela chic" apontando, talvez, para a inserção do Brasil neste cinema transnacional criando expectativas para o que pode ser um cinema de franquia globalizado produzido no país.
|
|
Bibliografia | STAM,Robert, João Luiz Vieira e Ismail Xavier, Brazilian Cinema (New York: Columbia University Press, 1995
|