ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Entre os muros da interculturalidade: o ‘homem marginal’ como condição da contemporaneidade |
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Autor | Sofia Zanforlin |
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Resumo Expandido | Esta proposta de trabalho procura articular o princípio de interculturalidade e o conceito de “homem marginal” ,desenvolvido por Robert E. Park, baseado no texto de Simmel sobre ‘O Estrangeiro’, e pensar as possibilidades de diálogo com o cinema contemporâneo. Para tanto, pensamos em trazer para esta discussão o filme “Entre os Muros da Escola” (Entre les murs - Cantet, 2008).
A noção de interculturalidade traz em sua significação a ideia de troca, negociação dos limites de convivência entre diferentes, lutas pelos direitos políticos, cidadania e representação; remetendo à confrontação social e ao entrelaçamento simbólico. A proposta intercultural apreende o mundo enquanto um conjunto de “hegemonias dispersas” (Appadurai, 2004) e pensa as sociedades a partir da mudança de “problemática da diferença e da desigualdade para inclusão/ exclusão”, num contexto onde os indivíduos estão inseridos numa lógica muito mais fluida de pertencimentos diversos. O intercultural, portanto, não vem reivindicar o direito à diferença, mas parte dela como um dado inexorável da realidade global. Não surge também imbuído do ideal de recuperação das utopias humanistas que fertilizaram o arcabouço de intenções do multiculturalismo, no entanto, reclama a aplicabilidade de seus princípios a todos os tipos de comunidades (indígenas, étnicas, nacionais, lingüísticas, de imigrantes, etc..), aos diferentes grupos componentes da paisagem multicultural e para com a sociedade geral, o direito de cultivar e manifestar seus pertencimentos culturais, linguísticos, étnicos ou confessionais. A questão passa a ser a de pensar como se realizam processos de inclusão, conexão e mobilidade junto ao direito de manifestação à diferença num contexto de mundialização e transculturalidade. Dessa forma, introduzimos o conceito desenvolvido por Robert E. Park, autor oriundo da Escola de Chicago, sobre o homem marginal. Este seria apresentado como o híbrido cultural por excelência, já que seria aquele que pertence às primeiras gerações de imigrantes, possuindo vínculos tanto com o país de origem dos seus pais como com o país em que passa a construir seus próprios vínculos identitários e cidadãos. A peculiaridade do duplo pertencimento está impregnada das características interculturais que ressaltamos acima, porém, mantém latente a possibilidade de expressão dos conflitos e tensões que são aflorados a partir da vivência cotidiana na negociação da identidade. O homem marginal é aquele que trafega entre dois mundos sem, no entanto, realizar o pertencimento definitivo entre eles, sendo um estrangeiro em ambos cenários. Se recorrermos à definição de Simmel para caracterização do estrangeiro, encontramos a seguinte explicação: (...) uma pessoa que chega hoje e amanhã fica.” Tanto a ideia de homem marginal como de estrangeiro, conjugados ao principio de interculturalidade, trazem latentes diversas possibilidade de desdobramentos seja do ponto de vista do conflito como da emancipação e enriquecimento das relações humanas. Essas discussões estão presentes no debate sobre esses conceitos e podem melhor ser observadas na análise do filme de Cantet, “Entre os Muros da Escola”. O filme pode ser visto a partir das lentes que os conceitos apresentados vêm elucidar. O entrelaçamento das noções teóricas e das relações de tensão, conflito, negociação, entendimento, é o convite que esta proposta lança, ou seja, pensar a comunicação intercultural como um dado da realidade contemporânea representada a partir da obra escolhida para esta análise. |
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Bibliografia | APPADURAI, Arjun. Dimensões Culturais da Globalização. Lisboa, Editorial Teorema, 2004.
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