ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Paranoid Park: das Composições de Nino Rota à Música Eletroacústica |
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Autor | Fernanda Aguiar Carneiro Martins |
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Resumo Expandido | Sétima arte e entretenimento popular, o cinema constitui um lugar de encontro entre a música dita “séria” ou não. Ao que parece, tal fenômeno chega a se impor como uma verdadeira vocação do cinema, à medida que nele não se estabelece uma hierarquia entre a música erudita e a música popular, entre o “nobre” e o “vulgar”. Eis o que a priori se revela fundamental em Paranoid Park (2007), de Gus Van Sant. Além disso, Paranoid Park participa da vertente do cinema contemporâneo, a qual revigora uma tendência profunda do cinema mudo, a tendência ao universalismo da imagem, ao qual se conjuga o da música. Na verdade, há vários anos, certos filmes redescobrem as virtudes estéticas do cinema mudo, uma vez que ao contornar os diálogos terminam por privilegiar os gestos, os olhares, os ruídos e, principalmente, a música. Nesse sentido, Paranoid Park caracteriza-se por longas passagens acompanhadas de música e sem falas. A ausência de falas ou o seu uso restrito dão destaque à música como, por exemplo, em Amor à Flor da Pele (2000), de Wong Kar Wai.
A originalidade da trilha sonora de Paranoid Park se deve justamente ao uso de uma variada gama de composições musicais, abarcando desde o tema clássico, encontrado na Sinfonia nº 9, de L. van Beethoven, à cultura urbana expressa através do hip-hop, do rock punk e do rap, além da música folk. Entre as composições do filme, as melodias de Nino Rota e a música eletroacústica de Ethan Rose, Frances White e Robert Normandeau merecem uma atenção especial, uma vez que elas põem em jogo a oposição que se estabelece entre a música orquestral de Nino Rota, extraída dos dois filmes Julieta dos Espíritos (1965) e Amarcord (1973), de Federico Fellini, e o experimentalismo das pesquisas formais, a saber, de sons, ruídos e, ainda, de arranjos harmoniosos notadamente em Ethan Rose e em Frances White. Entre orquestração e experimentalismo, ao certo, o emprego da música no filme contribui para a criação de um ritmo flutuante, interior e melancólico, Paranoid Park sendo um filme marcado por um tom eminentemente digressivo, centrado na escrita do diário do adolescente Alex, que resolve o escrever, após se encontrar enredado num assassinato acidental. No âmbito dos últimos longas-metragens do cineasta, é curioso observar o uso recorrente da música Walk through Resonant Landscape Nº 2, de Frances White, que aparece em Elefante (2003), Paranoid Park (2007) e, mais recentemente, em Milk (2008). Capazes de dotar as imagens de seus filmes de um belo potencial poético, certos temas musicais são revisitados, eles garantem uma sensação de tempo e de espaço sempre única, ligada ao universo de jovens adolescentes. Eis o caso das canções de Elliot Smith em Gênio Indomável (1997) e em Paranoid Park (2007), das composições de Beethoven em Elefante (2003) e em Paranoid Park (2007). Contrariando a ortodoxia hollywoodiana, fundada na transparência, a escrita musical de Paranoid Park, valendo-se de composições musicais que lhe pré-existem, provoca no espectador um eventual efeito de reconhecimento. Se, por um lado, o universo ao qual essas músicas pertencem é evocado; por outro, convém situar Gus Van Sant em meio ao grupo de criadores contemporâneos como David Lynch e Wong Kar Wai, grandes cineastas e autores de cinema que, conferindo importância à música, reaproveitam músicas já existentes. Tal opção nos remete ainda ao trabalho de Stanley Kubrick e de Jean-Luc Godard. Dito isso, não restam dúvidas de que uma fascinante história musical do cinema deve ser elaborada. No caso de Gus Van Sant, seus filmes demonstram que é preciso não omitir sua prática de músico. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques et al. A Estética do Filme, Campinas, SP: Editora Papirus, 1995.
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