ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | 1,99: a arte de vender palavras |
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Autor | Germana da Cruz Pereira |
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Resumo Expandido | Pessoas caminham por entre gôndolas de uma grande loja branca, clara, a qual se não transmite paz e tranqüilidade, deixa espaço para que não se reflita sobre as palavras, ou melhor, as ‘mercadorias’ compradas, mostrando que não apenas as imagens têm poder, mas que o verbal persuade mesmo em meio ao nada. Assim começa o filme 1,99 - Um supermercado que vende palavras (2003), do diretor Marcelo Masagão. Com a proposta de não trazer diálogos o diretor produz um filme ficcional, mas que nem por isso deixa de beber na realidade midiática ou de ser narrativo, auxiliado pelas seqüências e legendas. Além de apresentar uma construção completamente performática, aos moldes de uma instalação numa galeria de arte.
Mais do que palavras, o supermercado vende relações sociais, as práticas imbricadas no dia-a-dia e que se tornam cada vez mais banalizadas, com seres atomizados e indistintos, sem reconhecerem-se como sociedade, como comunidade, com uma noção paradigmática difusa. Ao criar um ambiente que se assemelha a uma galeria clara e minimalista, relações sonoras e visuais performáticas e instalativas, o filme discute o poder da palavra como representação e afirmação. O poder do discurso constituído, as relações entre o dito e o não dito, que embora não dito continua sendo seguido e aprovado pelos interessados em permanecer nesse mundo de aparências. O presente trabalho visa a analisar a importante relação entre o áudio e o visual, que no filme aparecem sem entremeios, sem entrecortes, fundidos num só lexema audiovisual, num fluxo contínuo como o que é mostrado na tela. O branco, antes de passar calma, aflora sensações adversas como agonia, angústia, solidão, atomização, refletindo processos sociais e situações pessoais cada vez mais recorrentes na sociedade em que vivemos, dita de consumo, visto que, como afirma Guy Debord (apud NOVAES, 2005), “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens”. Por meio da análise feita em 360º observamos que a performance suscitada no filme tenta abordar a história do indivíduo marcado pelos produtos utilizados durante sua vida, uma alusão às propagandas e às marca é bastante presente, e juntamente com a música atonal que permeia o filme cria ainda mais a atmosfera hibridizada e com aspectos de arte instalativa que são a marca mais clara do filme. Ademais do áudio e do visual, pretendemos analisar o diálogo instaurado com as artes visuais e instalativas, suas relações performáticas e repetitivas quanto a som, imagens e personagens, em que o espaço do supermercado é tomado ele próprio como uma galeria e as marcas trazidas à cena, suas obras de arte. |
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Bibliografia | AUMONT, J. et al. A estética do filme. São Paulo: Papirus Editora, 1994.
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