ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Padrões e Mudanças: Políticas para Industrialização do Cinema Nacional |
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Autor | Lia Bahia |
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Resumo Expandido | Para jogar luzes sobre uma outra história do cinema brasileiro, isto é, o cinema como processo industrial, é necessário observar a cadeia produtiva do cinema: produção, distribuição, exibição, consumo e recepção e suas relações com o mediador do cinema brasileiro: o Estado. E, ao optar por compreender as interações entre os processos de idealização e execução, conceder a devida atenção ao conjunto de políticas governamentais que os modulam. Assim, o Estado, conceito polissêmico, será entendido aqui como fonte permanente de emissão de normas, convenções e valores para toda a sociedade, mas, no que interessa a esse trabalho, principalmente, pela ação das suas diversas instituições públicas em especial àquelas ligadas ao campo cinematográfico. As instituições públicas brasileiras são reconhecidamente matrizes relevantes para o desenvolvimento e articulação de um mercado de cinema nacional. Portanto, Estado e cinema brasileiro estão visceralmente imbricados historicamente. No entanto, não seria possível traçar uma linha reta vinculando Estado e cinema. São inúmeras, intricadas e irregulares as relações entre os elementos que compõem os elos da cadeia produtiva entre si e com cada um deles e em conjunto com as instituições societais e governamentais.
Com base nesses referenciais e pressupostos, a investigação mergulha na relação do Estado com o mercado cinematográfico brasileiro nos anos 2000 a partir do o marco político e o discurso da re-politização do cinema brasileiro presente no III Congresso Brasileiro de Cinema, com a reunião do setor para a reflexão sobre a situação em que se encontrava o cinema naquele momento, apontar soluções e, principalmente, demandar a volta do Estado para a atividade cinematográfica. Por re-politização do cinema brasileiro entende-se o momento de reorganização política a partir de uma mobilização do setor que suscita uma reorientação das políticas públicas. Este evento é considerado um marco político importante para repensar os rumos da atividade, que, em 2001, dá origem à criação da Agência Nacional do Cinema. Depois do III Congresso Brasileiro de Cinema parecia que o Estado ia reconhecer a importância do mercado audiovisual nacional no mundo contemporâneo e estabelecer uma política industrial continuada para o setor. O Estado, apesar de avanços evidentes, ainda não conseguiu dar conta da complexidade do campo cinematográfico. O Estado, através de seus dispositivos não resolveu nem da vertente cultural nem da industrial do cinema nacional. Parece ainda não ter ficado claro que a constituição de uma indústria audiovisual é por natureza centralizadora e monopolista, o que vai contra o discurso multicultural do Estado brasileiro. Como se encaixam os preceitos de democratização audiovisual apoiado na descentralização e pulverização neste modelo industrial? O Estado ainda patina num modelo híbrido de fortalecimento econômico e democratização cultural. Ainda existe dificuldade de reconhecer e encarar o cinema nacional como meio massivo e produto próprio da cultura de massa. As diversas formas de distinção cultural que elevam o cinema brasileiro a um lugar de destaque na cultura nacional terminam por reprimir sua dimensão comunicacional massiva. Nos anos 2000 torna-se difícil isolar o do cinema dos outros meios audiovisuais. A produção e o consumo audiovisual mudam de paradigma na contemporaneidade. Eles devem ser pensados em circuitos integrados. A televisão, apesar de sua força ordenadora social, é hoje uma mídia velha. O home-vídeo, a TV por assinatura, o celular e a internet indicam novos modelos que devem ser trabalhados em conjunto. O Estado brasileiro precisa atualizar suas políticas públicas em função das novas tecnologias e novos hábitos culturais. Podemos dizer que o tempo real está à frente do tempo institucional. |
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Bibliografia | AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. São Paulo: Unicamp, 2004.
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