ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Do deserto, as fronteiras do mundo: as invenções da humanidade no cinema mundial contemporâneo |
|
Autor | Marcelo Rodrigues Souza Ribeiro |
|
Resumo Expandido | Entre algumas das narrativas que circulam no cinema mundial contemporâneo, têm se tornado recorrentes certas preocupações humanistas e humanitárias. Insinua-se a projeção de um espaço destinado à inscrição do nome de ‘humanidade’ – correlato ao espaço institucional internacional dos discursos da ‘humanidade’ e dos direitos humanos, cujo centro simbólico é a Organização das Nações Unidas.
O espaço ético e estético de inscrição do nome de ‘humanidade’ no cinema mundial é atravessado por uma série de perspectivas diferentes sobre o que se pode denominar cosmopolíticas da globalização, permanecendo dividido internamente por linhas de força divergentes. Proponho diferenciar três tendências gerais dessas linhas de força: figurações ocidentalistas da ajuda humanitária, como em “Lágrimas do Sol” (2003); figurações auto-críticas da promessa ocidental, como em “O jardineiro fiel” (2005) ou “Neste mundo” (2002); e figurações descentradas dos fóruns internacionais e das formas hegemônicas de institucionalização dos discursos da ‘humanidade’ (ONU, Banco Mundial e outros), como em “Guelwaar” (1992) ou “Bamako” (2006). A predominância de países africanos como cenário nos exemplos citados sugere o interesse da África como tropo paradigmático para uma interrogação das invenções da humanidade no cinema mundial contemporâneo, mas será sempre preciso levar em conta a multiplicidade de paisagens culturais em jogo (daí a presença de “Neste mundo” entre os exemplos, expandindo para além da África o questionamento) e a necessidade de extrapolar o tropo paradigmático da África no sentido de um pensamento do transcultural, num movimento que se pode atravessar, por exemplo, em “Heremakono” (2002). Delimita-se um campo de disputa entre imaginários, que correspondem a diferentes cosmopolíticas da globalização: o imaginário humanitarista imperial da cosmopolítica ocidentalista (Coronil, 1996; Mignolo, 2003); o imaginário humanista do cosmopolitismo metropolitano do pós-colonial (Bhabha, 1998; Mignolo, 2003); e o imaginário terceiro-mundista da cosmopolítica da descolonização (Shohat e Stam, 2006; Thiong’o, 2007). Uma reserva imagética comum perpassa os imaginários em disputa e constitui a caução de uma economia simbólica cuja moeda é o nome de ‘humanidade’ e cujo centro é o aparato discursivo dos direitos humanos. As narrativas do cinema mundial contemporâneo sobre problemas humanitários e questões de direitos humanos constituem atos simbólicos (conforme a definição da narrativa como ato socialmente simbólico de Jameson, 1981) que mapeiam os antagonismos da globalização a partir de diferentes cosmopolíticas, centrais ou descentradas, metropolitanas ou periféricas. Nesse sentido, com base na leitura de filmes contemporâneos ambientados na África e em exemplos suplementares, diferencio inicialmente as três tendências gerais que atravessam o espaço ético e estético de inscrição do nome de ‘humanidade’ no cinema mundial contemporâneo, compondo assim um panorama das cosmopolíticas da globalização e de suas formas de mapear os antagonismos de nosso tempo. A leitura de “Heremakono” (2002), de Abderrahmane Sissako, opera um deslocamento desse panorama das cosmopolíticas da globalização, esboçando a extrapolação da África como tropo paradigmático e a projeção programática de um pensamento do transcultural. |
|
Bibliografia | BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.
|