ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Etnicidade e campo cinematográfico: Waldir Onofre e o cinema brasileiro dos anos 70 |
|
Autor | Pedro Vinicius Asterito Lapera |
|
Resumo Expandido | Embora seja revestida por uma aura individualista na sociedade burguesa do século XX, a atividade intelectual é sempre definida de acordo com parâmetros coletivos. A busca por prestígio e legitimação, os termos através dos quais se dão as disputas pelo poder de nomear o mundo, os lugares e ritos de passagem que definem a experiência dos intelectuais são alguns dos elementos que atuam na configuração de um campo do saber.
O período dos anos 50 e 60 foi marcado por vários congressos relacionados à produção cinematográfica nacional, pela criação de instituições de ensino ligadas ao cinema, por uma produção de filmes reconhecida nacional e internacionalmente como criadora de imagens do Brasil, além da presença de instituições responsáveis pela gestão financeira e cultural da atividade cinematográfica (INC e EMBRAFILME, criados em 1966 e 1969 respectivamente). Desse modo, podemos considerar que esse período foi crucial para a configuração do cinema brasileiro enquanto um campo, na acepção de Bourdieu, no qual são disputados capitais - econômico, cultural, social e simbólico - tanto no seu interior quanto na relação deste campo com outros. O ator e diretor Waldir Onofre pode ser considerado um dos sujeitos que atuaram nesse processo de formação do campo do cinema no Brasil. Onofre iniciou sua carreira cinematográfica como ator em 1961, no esquete de Miguel Borges do filme "Cinco Vezes Favela", interpretando o protagonista título do mesmo (“Zé da Cachorra”). Nos 15 anos seguintes, Onofre marcou sua presença no cinema por meio do trabalho de ator em vários filmes, tais como "Ganga Zumba", "A Falecida", "O Amuleto de Ogum" etc. Tendo feito a assistência de direção do filme Perpétuo contra o esquadrão da Morte (Miguel Borges, 1967) e liderando um grupo de atores em Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio, além da sua participação como ator na televisão, Onofre escreveu o roteiro d’"As Aventuras Amorosas de um padeiro", que viria a ser posteriormente a sua única experiência como diretor. Após cerca de dois anos tentar, sem sucesso, filmar o roteiro, Onofre o mostrou a Nelson Pereira dos Santos - então diretor reconhecido no campo cinematográfico, devido aos vários filmes já realizados e que fizeram sucesso - que aceitou produzir o filme. A presente comunicação terá como foco a tentativa de Waldir Onofre em passar do lugar de ator para o de diretor e sua experiência com "As Aventuras amorosas de um padeiro". Para tanto, consideraremos as representações veiculadas pelo filme e pelo debate crítico enquanto práticas discursivas que se remetem à eficácia social e simbólica da linguagem, ou seja, enquanto vestígios/índices das relações de poder presentes no campo cinematográfico. Partindo deste caso concreto, lançamos a seguinte questão: de que modos é possível compreender a ligação entre intelectuais, campos do saber e categorias raciais/étnicas? Valemo-nos da seguinte hipótese: as relações entre a agência operada pelo filme e sua recepção revelam como o fator étnico-racial entra na disputa pelos capitais no campo cinematográfico, isto é, como etnia/raça pode ser considerada um dos elementos estruturantes da/ estruturados pela atuação dos intelectuais dentro desse mesmo campo (levando-se em conta, obviamente, o recorte histórico proposto). Finalmente, devemos recordar uma pequena diferença feita por alguns teóricos entre raça e etnia. Consideram-se categorias raciais quando os sujeitos diferenciam-se apelando ao fenótipo (cor da pele, cabelo etc), ao passo que categorias étnicas são relacionadas a diferenças de ordem cultural e/ou lingüística, sendo que esses dois níveis de diferenciação aparecem muitas vezes articulados ou contrapostos. |
|
Bibliografia | ARAUJO, Joel Zito. A Negação do Brasil. São Paulo, Ed. SENAC, 2000.
|