ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Quando as vedetes [in]formam “outras” representações identitárias em Saneamento Básico, o filme (2007) |
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Autor | Mauro de Araújo Menine Júnior |
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Resumo Expandido | Este trabalho reflete sobre a construção de novas "geografias imaginárias" através de representações simbólicas desterritorializadas,pela inserção de celebridades-as antigas “vedetes” discutidas por Edgar Morin(2007,1997,1972) e atualizadas nos “mitos midiáticos” de Muniz Sodré(2008)-,como modelos de ressignificação das relações identitárias entre a cultura local e nacional pelo nosso cinema.A produção cinematográfica brasileira contemporânea,e por extensão a sul-rio-grandense,vislumbra um exemplo de como um universo simbólico idiossincrático pode ser remodelado pelas demandas conceituais de uma indústria cultural,tanto regional como nacional,subordinando-o à mitologia dos entretenimentos,bem como possibilitando o esvaziamento de seus conteúdos de referência e reconhecimento culturais.Como o objeto de análise desta apresentação,’Saneamento Básico,O Filme’(2007),de Jorge Furtado,pode revelar a utilização das “vedetes” como exemplo de (re)significação do simbólico e a adesão ao modelo de produção desta mesma indústria,ao compor um quadro ao mesmo tempo eclético,homogêneo e sincrético de dissolução de referentes?Enfim,como o tecido da cotidianidade se configura frente a estas novas formas de representação do imaginário e do real?Em Saneamento Básico,o filme (2007), Jorge Furtado constrói um "filme-dentro-do-filme" para discutir o próprio cinema,ou melhor,a sua realização como feito e processo,que desencadeia uma série de questões que tangenciam a realidade,como financiamento público,aplicação de recursos destinados à cultura,necessidade de "comunicar-se" pela ficção,etc.O filme causa estranheza por sua mise-en-scene em que os personagens principais(interpretados por Fernanda Torres e Wagner Moura)à exceção dos anciãos(Paulo José e Tonico Pereira),que se localizam imagética e geograficamente em um determinado espaço real e imaginário,com fortes traços culturais e identitários -uma região de imigração italiana no sul do país-,são caracterizados de forma a não reproduzirem as idiossincrasias de fala, gestos e costumes do local,isto é,não representam este universo simbólico de acordo com o imaginário ou com a realidade do cotidiano.Estão dissociadas culturalmente,apesar de pertencerem ao espaço geográfico,imagético e ficcional de então.O forte sotaque carioca da atriz/protagonista Fernanda Torres/Marina causa “estranhamento” entre o que se diz e o que se vê,e assim será por quase toda projeção:personagens dissociados do “fundo do mundo”, transplantados de outra realidade que não aquela,ou seja, personagens “cariocas” sobre um cenário “gaúcho”.E por quê?De certa forma,Saneamento Básico,o filme perfaz a operação da indústria cultural na produção de novos significados identitários para o indivíduo.O filme reproduz a ética-estética catódica da Globo Filmes,(re)configurando o comportamento relacional do sujeito com a comunidade e suas trocas simbólicas através do rompimento com o sentido de seus discursos,de suas noções de comum-pertencer,de suas geografias imaginárias,(re)significando-o tanto no imaginário ficcional quanto nas práticas cotidianas do real,[in]formando outros.Em outro momento,Furtado se enquadra à reflexão de Canclini sobre os efeitos destas mídias como formadoras de “padrões de consumo com uma visão nacional”(2001,p.164),ou seja,com o processo de unificação nacional pelos meios de comunicação de massa,a fim de aparar as diferenças locais em prol de um reconhecimento da totalidade,transparecem a produção de novas tendências de consumo.O cinema de Furtado,bem como grande parte das co-produções da Globo Filmes,é uma tentativa ao "cinema-global",um neologismo inspirado em Canclini,que busca "falar" a todos brasileiros com uma "linguagem" que "transplanta" o "Global"(ética-estética da Globo Filmes) sobre o corpo do "local",mesmo que para isso sacrifique o imaginário e a imaginação peculiar de cada cultura regional que se diferencia e enriquece o "continente" contra a violência simbólica da estereotipia dos mitos. |
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Bibliografia | CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: UFRJ, 2005.
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