ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O cinema além de Limite |
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Autor | Alexandre Rocha da Silva |
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Resumo Expandido | O cinema além de Limite é resultado parcial de uma investigação mais ampla desenvolvida por mim sobre As teorias dos cineastas brasileiros sobre o audiovisual. Parti da constatação de que não há uma teoria em sentido estrito dos cineastas brasileiros sobre o audiovisual, mas teorias em devir que perpassam publicações, entrevistas e algumas enunciações cinematográficas. O que se apresenta aqui são algumas sistematizações do que em Mário Peixoto aparece como índices desta teoria ainda em dispersão.
Jacques Aumont defende em A teoria dos cineastas (2004) a tese de que existe uma teoria, ainda que não formulada nos parâmetros acadêmicos, que norteia o fazer dos cineastas. A natureza deste saber, para ele, seria uma espécie de “teoria espontânea dos cineastas” (2004, p. 13). Não de uma teoria formal, universal, apriorística, mas de uma teoria prática, particular e em devir, passível de ser descrita nas redes semióticas sempre descontínuas e incompletas que a engendram. Tais redes, formadas de textos verbais (artigos, livros ou entrevistas) e de textos não-verbais (cenas e seqüências de filmes) são aqui designáveis a partir de três procedimentos metodológicos: a Semiótica (Peirce, 1995), a Arqueologia (Foucault, 1995) e a Desconstrução (Derrida, 2004). À arqueologia coube identificar as condições de emergência dessa concepção, bem como sua caracterização; à semiótica, traçar as semioses que articulam os diferentes registros verbais e não-verbais referidos com vistas a tornar mais claras as idéias do diretor sobre o cinema; e, à desconstrução, colocar no centro da cena o que nas produções de Peixoto aparece apenas secundariamente: uma teoria sobre o cinema. Entre os elementos apresentados aqui para configurar tais teorias em devir, destaca-se, em primeiro lugar, a questão das audiovisualidades como o desafio de pensar o audiovisual em sua irredutibilidade a qualquer mídia audiovisual (televisão, cinema, vídeo), ainda que as mídias e seus processos lhe sejam imprescindíveis. Mário Peixoto sempre esteve empenhado em produzir fendas em Limite. Essas fendas são reconhecíveis na história de sua produção, nos momentos históricos de sua pouca exibição em cineclubes e circuitos alternativos, nos artigos em que o cineasta se refere ao filme como incompleto, nas cenas por ele imaginadas e jamais realizadas, como a do relógio no fundo do mar. Tais procedimentos criaram, por um lado, aquilo a que Glauber Rocha chamou de mitologia em torno de Limite, mas, por outro – e esta é a hipótese central aqui desenvolvida -, indiciaram uma concepção sobre a natureza do audiovisual até então inédita na historiografia do cinema brasileiro. O segundo e o terceiro elementos, referentes à arqueologia e à semiótica, consistem em determinar as condições de emergência dos discursos de saber de uma dada época. Ora, a pergunta fundamental aqui proposta é: quais as marcas discursivas que expressam as condições de emergência de uma teoria de Mário Peixoto sobre o audiovisual, ou seja, quais são suas formulações expressas metalingüística e meta-semioticamente sobre o audiovisual que, ainda dispersas, podem vir a compor uma teoria sobre o audiovisual? O encaminhamento dessas questões aponta para a identificação das marcas discursivas expressas pelo conjunto de fendas produzidas por Mário Peixoto sobre Limite, ao longo de sua vida (1908? – 1992), em entrevistas e artigos por ele publicados, mas também no próprio filme em dois eixos: o da seleção das imagens, que articula o filme com o que lhe é exterior, e o de sua composição, que articula diacronicamente os elementos que compõem o filme. Sobre o primeiro eixo, são analisadas cenas como a da “visão de Paris”, identificada pelo diretor como a imagem que gerou Limite e, sobre o segundo, as relações temporais estabelecidas entre as imagens afecção e percepção que compõem o cinema além de Limite. |
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Bibliografia | AUMONT, J. As teorias dos cineastas. Campinas: Papirus, 2004.
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