ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Pegou essa? Fan films, intertextualidade e disputas simbólicas em comunidades de fãs |
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Autor | Pedro Peixoto Curi |
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Resumo Expandido | Um fan film é uma produção independente, baseada em um objeto da cultura oficial, feita por um fã e voltada para outros fãs. Não tem como objetivo o lucro e é feito por e para a diversão, para preencher lacunas ou mostrar uma nova interpretação para aquele objeto. Além de ser o produto tecnicamente mais complexo da cultura dos fãs, o fan film é também um meio de se aproximar de outros fãs e de se destacar dentro das comunidades.
Cada pessoa tem uma reação ao consumir um determinado texto. Pode-se imaginar um final diferente, falas que não foram escritas ou até mesmo a relação daquele texto com outro já existente. A dedicação de um fã a um objeto e a forma como ele está atrelado à sua vida criam a vontade – ou mesmo necessidade - de modificá-lo ou de criar um novo texto a partir dele para suprir suas expectativas e sua imaginação. Os fãs sempre produziram novos textos a partir daqueles que consumiam, combinando-os com o auxílio das ferramentas que tinham à disposição. O acesso à informação e a um número crescente de produções, assim como a popularização dos meios produtivos como programas de edição digital e câmeras digitais, fizeram com que pudessem desenvolver produtos mais elaborados, como os fan films. Em 1997, o americano Kevin Rubio revolucionou a participação dos fãs no universo de Guerra nas Estrelas, ao produzir Troops, considerado o primeiro fan film moderno, uma paródia do programa de TV norte-americano Cops. Seguindo os princípios das produções televisivas que mostram o dia-a-dia de policiais, Troops recorre a elementos típicos desse gênero. A câmera na mão capta toda a ação, realizando movimentos rápidos. Planos abertos retratam o que acontece e fechados revelam o drama dos envolvidos, em sequências longas que reforçam a ideia de realidade. A iniciativa de Rubio abriu caminho para que outros fãs começassem a transpor, para realizações cinematográficas amadoras, ponderações sobre seus objetos de fascínio. E foi o que fez o brasileiro Henrique Granado, em 2002, com Casa dos Jedi. O fan film combina principalmente dois textos, Guerra nas Estrelas e Casa dos Artistas, reality show criado pelo SBT também em 2002. Nessa nova história, personagens de diferentes episódios da saga criada por George Lucas se reúnem em um tempo e espaço comuns, apresentados como se tivessem uma vida fora da saga e tivessem sido confinados em uma casa. As novas personalidades criadas para cada personagem, coerentes com as apresentadas nos textos originais, são acrescidas de valores humanos e adaptadas aos estereótipos presentes em reality shows como o que o filme tenta emular. Casa dos Jedi recorre também a uma série de características típicas da linguagem audiovisual dos reality shows. A câmera parece estar presa ao teto e o uso de planos estáticos busca reproduzir o ponto de vista das câmeras fixas instaladas nas casas desse tipo de programa. Além manter as características estéticas de um dos textos que serviu de inspiração, os fãs-realizadores incorporam, na narrativa e em elementos de cena, referências a outros textos que fazem parte de seu universo. Como compartilham esse tipo de conhecimento específico com outros fãs, cria-se uma corrida para encontrar todas as mensagens escondidas no fan film. Surge daí a disputa por quem sabe mais sobre os textos envolvidos naquela produção. O fã-realizador ganha espaço dentro da comunidade a partir do momento em que desafia outros fãs a decifrarem o novo produto criado e, entre os fãs-espectadores, cada referência desvendada reafirma a condição de fã e funciona como moeda nas disputas simbólicas existentes dentro das comunidades de que fazem parte. Esse trabalho investiga, a partir da análise de produções brasileiras como Casa dos Jedi e até mesmo outros fan films latino-americanos, a forma como intertextualidade se manifesta nos nesse tipo de texto, em diversos níveis, durante as etapas de concepção, realização e recepção, influenciada, ainda, por outros fatores, como a nacionalidade do realizador. |
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Bibliografia | ALEXANDER, Alison; HARRIS, Cheryl. (org.) Theorizing fandom: fans, subcultures and identity. New Jersey: Hampton, 1998.
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