ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | 'O Saci' e a 'brasilidade' |
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Autor | Luís Alberto Rocha Melo |
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Resumo Expandido | Este texto aborda a importância do filme “O Saci” (Rodolfo Nanni, 1951-53) na construção da idéia de “cinema independente” no Brasil. O filme de estréia de Rodolfo Nanni contou em sua equipe com Ruy Santos (diretor de fotografia), Nelson Pereira dos Santos (assistente de direção) e Alex Viany (diretor de produção), e é considerado um exemplo de aplicação das teses nacionalistas do cinema brasileiro dos anos 50.
Rodolfo Nanni realizou “O Saci” um ano após voltar de Paris, em 1950. Assim que chegou ao Brasil, ingressou na produção de “Aglaia”, filme inacabado dirigido por Ruy Santos. O convite para dirigir “O Saci” partiu de Arthur Neves, sócio de Caio Prado Júnior na editora Brasiliense, que havia publicado as obras de Monteiro Lobato. Ex-aluno do IDHEC (Institute des Hautes Études Cinématographiques), Rodolfo Nanni vivenciara em Paris um momento de efervescência cultural ligada ao Partido Comunista, convivendo com Carlos Scliar, Otávio Araújo, Jorge Amado e Joris Ivens, e sendo co-fundador da Associação de Artistas Latino-Americanos. Nos anos 1950, Nanni teve destacada atuação nos Congressos Nacionais de Cinema, apresentando a tese “O produtor independente e a defesa do cinema nacional”. Seja pela adaptação literária de um clássico de Monteiro Lobato, seja pela ambientação rural, seja ainda pela utilização do folclore e de elementos relativos a uma determinada noção de “cultura popular”, “O Saci” responde a uma série de “requisitos” a princípio coerentes com alguns dos pressupostos ideológicos dos cineastas ligados ao PCB que, em artigos publicados em revistas de cultura e em teses divulgadas pelos Congressos, discutiram a questão do “conteúdo nacional” e da “brasilidade” como valores a serem defendidos. De acordo com Maria Rita Galvão, os realizadores ligados ao “cinema independente” tinham como pretensão realizar “ao mesmo tempo obras de arte e de reflexão”, buscando assim tornar mais “autêntica” a cultura brasileira. Para tanto, fazia-se necessário mergulhar em suas raízes: “Assim, em termos sociológicos, entendia-se o cinema, no seu relacionamento com a realidade brasileira, enquanto manifestação representativa de uma certa realidade histórica determinada que se pretende desvendar criticamente, e enquanto fator interveniente nesta realidade. E em termos estéticos - enquanto arte - o cinema deveria ser, não apenas objeto de fruição, mas também e sobretudo uma forma de questionamento, um meio de se relacionar e interagir com a realidade brasileira - e seria este o critério do seu valor artístico” (GALVÃO, 1980, p. 23). Interessa-nos examinar, em termos estéticos, em que medida esses valores se aplicam ou se tornam explícitos no filme em questão, isto é, verificar se as noções de “brasilidade” e de “conteúdo nacional” encontram correspondência na mise-en-scène, e não apenas nos discursos extra-fílmicos que embasariam a aceitação de “O Saci” como um típico representante do cinema “independente”. O que se busca, portanto, é estabelecer relações e apontar para eventuais contradições entre o ideário “independente” nacionalista e o filme realizado, no caso, o longa de estréia de Rodolfo Nanni. Em nossa análise, privilegiaremos o trabalho de fotografia de Ruy Santos e a construção do espaço cênico, que em “O Saci” joga com as fronteiras entre o mundo interior do “sítio” e o mundo exterior da “mata”. |
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Bibliografia | GALVÃO, Maria Rita. “O desenvolvimento das idéias sobre cinema independente”. 30 anos de cinema paulista, 1950-1980. São Paulo: Cinemateca Brasileira, Cadernos da Cinemateca, n. 4, 1980.
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