ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Preparação do ator no cinema brasileiro: improvisação e criação |
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Autor | walmeri Kellen Ribeiro |
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Resumo Expandido | Desde o lançamento dos filmes Cidade de Deus e Bicho de Sete Cabeças, no inicio dessa década, o trabalho dos atores e a preparação de elenco, no cinema brasileiro, ganharam destaque da mídia. Entretanto, a falta de pesquisas nesse campo de estudo deixa lacunas, possibilitando, muitas vezes, impressões equivocadas e deturpadas quanto aos princípios e técnicas empregados na preparação de atores.
Assim, a proposta desta comunicação é apontar, a partir de um diálogo entre teorias cinematográficas e teatrais, e levando em consideração as singularidades de cada trabalho, os princípios direcionadores dos processos de preparação de Fátima Toledo e Sérgio Penna, tomando por base o processo de preparação dos atores dos filmes Cidade de Deus, Bicho de Sete Cabeças, Contra Todos e Tropa de Elite. Com isso, busca-se pontuar as contribuições desse ator, ao ser tomado como criador, para a estética cinematográfica. Diferentemente do cinema americano, sobretudo hollywoodiano, no qual o coach é responsável pela preparação de um determinado ator, no Brasil, os preparadores de atores assumem a preparação de todo o casting. Uma preparação que não apenas insere o ator no contexto da personagem e do filme, mas que propõe a este a criação de possibilidades dramáticas para o filme. Ao falarmos em criação de possibilidades dramáticas, devemos ressaltar a importância do processo de preparação para o desenvolvimento da obra cinematográfica brasileira, num todo. Pois o processo de preparação de atores no cinema brasileiro não se ocupa apenas da preparação dos atores, mas sim da preparação do filme, pois, com uma criação pautada na improvisação dos atores, nas possibilidades decorrentes dos erros e acasos advindos dessas improvisações é que o filme se constrói. Calcados em um trabalho físico intenso, que leva o corpo ao limite a partir do binômio ação-física/respiração (Antonin Artaud) e das relações corpo–espaço-tempo, os preparadores buscam a organicidade do ator(Jerzey Grotowski), deixando-os livres para criar, para propor, acompanhados pelos olhos atentos dos diretores e, muitas vezes, dos roteiristas,. Temos então, atores criadores que levando em conta a restrição do suporte, do orçamento, do tempo e de todas as etapas da produção, criam um cinema vivo, como diria Antonin Artaud. Um cinema construído em cena e para a cena, um cinema que tem a improvisação como mola propulsora da criação. Mas, não uma improvisação por falta, por erro, sem preparo, e sim uma improvisação como construção que, partindo de estímulos ou circunstâncias dadas (Constantin Stanislavski), faz com que as cenas comecem a ser construídas durante a preparação e continuem em construção no decorrer das filmagens. Cenas registradas por uma câmera sem marcações. Obras como Contra Todos (2004), do diretor Roberto Moreira, são construídas cena após cena, improvisação após improvisação, mediadas pela lente de uma câmera guiada por Adrian Teijido. Fruto de um rigor técnico e de muita responsabilidade por parte dos preparadores e diretores, os princípios direcionadores deste trabalho partem das proposições do teatro físico, que em diálogo com teorias contemporâneas, tem o corpo do ator como um sistema dinâmico e auto-organizativo (Greiner, Meyer). |
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Bibliografia | ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
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