ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Versão brasileira? Tesouro perdido, David, o caçula e a incorporação do modelo americano no Brasil |
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Autor | Luciana Corrêa de Araújo |
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Resumo Expandido | Depois de dirigir “Valadião, o cratera” (1925) e “Na primavera da vida” (1926), Humberto Mauro parte para a realização de “Tesouro perdido”, concluído em 1927. A eleição do cinema americano hollywoodiano como modelo a ser seguido é dominante na produção de filmes silenciosos no Brasil, tanto nos dois maiores centros, Rio de Janeiro e São Paulo, quanto nas diversas outras cidades nas quais se registra a realização de fitas de ficção. “Tesouro perdido” não será exceção e, além da inspiração nos populares filmes de aventura, tomará como referência central uma obra em particular: “David, o caçula” (Tol’able David / Henry King, 1921), que arregimentou inúmeros fãs brasileiros ao ser exibido no país, continuando a ser lembrado com admiração ao longo de toda a década.
Paulo Emilio Salles Gomes assegura que “Humberto Mauro não só assistiu a 'David, o caçula' mas estudou-o, o que faz pensar que teve ocasião de revê-lo em 1926 na companhia ou sob a orientação de Adhemar Gonzaga” (GOMES, 1974, p.144). Para Paulo Emilio, os ecos mais evidentes de “David, o caçula” em “Tesouro perdido” estariam relacionados ao personagem principal, cujo correspondente no filme brasileiro é Pedrinho (Máximo Serrano), que embora não seja o galã acaba por se firmar como herói, tornando-se “inocente sacrificado” ao morrer depois de salvar a mocinha seqüestrada por bandidos. A análise da incorporação de elementos de “David, o caçula” por Humberto Mauro em seu terceiro filme estimula uma série de reflexões sobre os mecanismos e os impasses que caracterizam o processo de adaptação do modelo hollywoodiano pelos filmes silenciosos brasileiros. Um dos pontos a salientar em meio aos desvios em relação ao modelo diz respeito à conduta do protagonista e sua constituição enquanto herói, onde se percebe flagrante dificuldade na definição de seu papel e também na própria construção e desenlace dos conflitos. A despeito das variações nos enredos, esse é um traço que se mostra marcante em várias outras produções de ficção do período, a exemplo de “Retribuição” (Gentil Roiz, 1925), “A filha do advogado” (Jota Soares, 1926) e “Canção da primavera” (Fábio Cintra, 1932). Em “Cinema brasileiro: propostas para uma história”, Jean-Claude Bernardet dedica todo um capítulo ao “Mimetismo”, tecendo considerações a respeito das tentativas de reproduzir no Brasil o modelo americano. Ele chama a atenção para o fenômeno de aculturação: as formas do cinema americano, profundamente vinculadas com a sociedade onde se desenvolveram, perdem tais vínculos ao serem transpostas para o cinema brasileiro e acabam se deslocando. Para o autor, o que é imitado “não são os elementos básicos da estrutura dramática mas sim elementos de ambientação, gestos, happy end, perseguições etc.” (BERNARDET, 1979, p.79-80). Ao tratar das relações entre “Tesouro perdido” e “David, o caçula”, esta comunicação pretende se deter justamente nos deslocamentos operados em relação ao modelo americano, procurando não só avaliar seus desdobramentos na construção dramática como também investigar os possíveis vínculos que tais deslocamentos, por sua vez, mantêm com a dinâmica própria das relações sociais no Brasil. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. Cinema brasileiro: propostas para uma história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
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