ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Reflexões acerca da concentração regional da produção cinematográfica brasileira |
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Autor | Daniela Pfeiffer |
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Resumo Expandido | O cinema brasileiro vive um complexo dilema, uma vez que não consegue nem se constituir como uma indústria nem se desenvolver como atividade cultural e diversificada. Desta forma, faz-se necessário o desenvolvimento de políticas que contemplem estas duas frentes, para que se possa tanto recuperar a participação no mercado com produtos competitivos que gerem aumento de capital (alicerce da base industrial), quanto criar mecanismos de diversificação da cultura.
Apesar dos impactos sociais e culturais acarretados, pode-se afirmar que a concentração é de fato necessária para que, através do ganho em escala, se chegue a uma produção de excelência. Assim, também as industrias culturais tendem a se concentrar próximo aos grandes centros econômicos, onde não so os recursos financeiros estão localizados, como também os grandes talentos e recursos técnicos. Esta afirmação pode ser constatada também no Brasil. No entanto, a economia cinematográfica ainda se desenvolve de maneira em parte artesanal e fragmentada, carente de bases comerciais sólidas e refém de políticas governamentais, que terminam por postergar a consolidação de uma indústria e seu fortalecimento. Neste cenário, faz-se necessário investigar como o Estado contribui para equilibrar o cenário cultural e dispor de meios para democratizar a produção e o acesso ao audiovisual. Nos últimos anos, as políticas publicas estiveram voltadas quase totalmente para o setor da produção cinematográfica, deixando de lado o restante dos setores e janelas que compõem o todo complexo da cadeia do audiovisual. A principal forma como atualmente são subsidiadas as produções constitui-se como o reflexo de uma política criada no inicio da década de 90. Hoje, mais de uma década depois de iniciada esta importante fase do cinema nacional, faz-se necessário realizar um balanço critico para avaliar as limitações das leis de incentivo, e verificar de que forma os modelos estabelecidos se aplicam à realidade social, econômica e cultural brasileiras. Ainda que as políticas publicas estabelecidas aparentemente funcionem como um meio democrático de produção, na prática poucos estados conseguem participar deste processo. Assim, o modelo contribui para reforçar a cultura estabelecida, tendendo a priorizar manifestações e elementos culturais já consagrados, e dificultando a circulação de expressões que contenham variações deste discurso. A falta de capacitação, aliada ao desinteresse das empresas investidoras por projetos que não reproduzam o discurso hegemônico, fazem com que os investimentos, e consequentemente a produção e o acesso, permaneçam concentrados nos locais onde a economia é mais forte. Neste processo a participação do Estado torna-se fundamental, uma vez que as forças de mercado não conseguem por si só satisfazer as necessidades culturais de uma sociedade. Como incorporar os diferentes brasis ao discurso dominante, mantendo-se ao mesmo tempo o ritmo do desenvolvimento econômico cultural, constitui-se como uma questão não só de responsabilidade do Estado, como de toda sociedade. Na luta pela preservação das diferenças e pela expressão de identidades que fogem aos padrões hegemônicos estabelecidos, abre-se um espaço para o surgimento de pólos regionais de produção, os quais possuem um papel importante no processo da desconcentração, atuando de maneira paralela às dinâmicas existentes nos grandes centros. Os estados da Bahia e de Pernambuco têm se destacado neste universo, uma vez que suas cinematografias têm conseguido se desenvolver a partir da existência de demanda local, bem como de um retorno espontâneo do mercado. O surgimento destes pólos estimula uma dinâmica sustentável e o desenvolvimento de “centros produtores em periferias”, contribuindo para legitimar o debate da descentralização, bem como estimular a formação de novos pólos. |
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Bibliografia | ALMEIDA, Paulo Sérgio, BUTCHER, Pedro. Cinema desenvolvimento e mercado. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2003.
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