ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Zonas fronteiriças nos filmes da “chicana” Lourdes Portillo |
|
Autor | Valeria Valenzuela |
|
Resumo Expandido | “Ciudad Juárez, México, está situada en la frontera con El Paso, Texas. Para algunos estadounidenses es el lugar donde todo lo prohibido está disponible. Para los mexicanos es su hogar y el lugar donde trabajan”, assim apresenta Lourdes Portillo o lugar em que se desenvolve seu documentário Señorita Extraviada (2001), um território conhecido pelo seu alto índice de narcotráfico, lavagem de dinheiro e de prostituição. Atualmente é a região fronteiriça mais povoada do norte do México. 60% de seus habitantes são emigrantes de outros estados da República Mexicana, que chegam à procura de emprego. Estima-se que, diáriamente chegam 300 pessoas a Ciudad Juárez, o que constitui uma povoação flutuante de 250.000 pessoas a cada ano.
A região adquiriu uma grande importância econômica e cultural, e os migrantes transformaram-se em protagonistas fundamentais, não só da economia como também da construção social e cultural. A fronteira México-Estados Unidos tem gerado reflexões em todos os campos de conhecimento. No âmbito cinematográfico, o número de filmes realizados sobre a fronteira norte de México, suas características e a importância de seus efeitos, levou a defini-los como um gênero: o fronteiriço. Mesmo que a delimitação geográfica não seja a característica central, a maioria dos filmes fronteiriços desenvolve-se em cidades de fronteiras mexicanas e estadounidenses. Nos filmes comparam-se as diferentes culturas e expõem-se as dificuldades a serem superadas na busca por assimilar os costumes de uma outra cultura. O gênero fronteiriço refere-se à fronteira territorial norte que delimita o México dos Estados Unidos. Porém, a fronteira ao sul que separa o México da Guatemala e Belize, também vem sendo representada no cinema, constituindo-se no imaginário cinematográfico praticamente de forma antagônica aos modelos de representação da fronteira norte. Se o norte se apresenta como uma aproximação ao mundo industrializado e uma possibilidade de superação financeira, o sul é frequentemente representado como uma aproximação às culturas originárias, o mundo Maya, a natureza exuberante. Esta comunicação analisa a representação da fronteira norte e da fronteira sul do México em dois documentários de Lourdes Portillo, mexicana radicada nos Estados Unidos desde sua infancia. Nos filmes Señorita Extraviada (2001), sobre os feminicídios que há mais de uma década acossam Ciudad Juarez e Al más allá (2008), sobre o contrabando de drogas que chega pela fronteira marítima à pequena cidade costeira de Quintana Roo, se problematizam questões envolvidas com a relação de poder e dependência entre México e Estados Unidos. Apesar do filme Al más allá não ter sido filmado na fronteira entre México e Estados Unidos e os personagens não serem fronteiriços, o argumento está vinculado à relação entre ambos os países e as suas implicações no terreno das identidades culturais. Dita relação, independentemente da localização geográfica em que se desenvolva, constitui um terceiro espaço, próprio do mundo “chicano” ao qual a autora pertence. A partir deste lugar, Portillo elabora um cinema de denúncia que se estrutura como um ato de resistência frente às formas de dominação, exercício de poder e controle sobre alguns setores da população mexicana. Com esta análise pretende-se observar como são construídos estes dois espaços fronteiriços em relação ao seu significado sócio-cultural definido a partir de uma delimitação geográfica. Por outro lado, a forma afetiva de aproximação característica da obra de Portillo, na qual o espectador estabelece uma relação com o objeto mediada pela experiência da autora –como investigadora e ativista – permite observar a fronteira como um espaço social ao qual ela própria pertence. Desta maneira, a forma em que Portillo enfrenta o documentário –como a prática de uma cinematografia vulnerável onde um “observador vulnerável” produz uma “filmagem vulnerável” (Fregoso-2003) – faz da sua reflexão singular um gesto político. |
|
Bibliografia | DE LA MORA, Sergio (2003) “Terrorismo de género en la frontera de E.U.A.”, El ojo que piensa, Nr. 0, México.
|