ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Uma Nova Etapa na Interlocução entre Cinema e TV: Hoje é Dia de Maria |
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Autor | Renato Luiz Pucci Junior |
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Resumo Expandido | O objetivo da comunicação é examinar a hipótese de que as últimas minisséries dirigidas por Luiz Fernando Carvalho constituam uma radicalização do processo de interlocução entre cinema e TV. Serão investigados aspectos de Hoje é Dia de Maria (2005), a primeira das minisséries em questão, a fim de corroborar a hipótese. Para avaliar o alcance de uma produção como essa, é necessário ter em mente o histórico das relações entre os dois meios, que tem sido repensado por pesquisadores como Holmes (2004) e Delavaud (2007). Em troca da certeza de que desde os anos cinquenta houve um confronto entre cinema e TV, esses pesquisadores apontam que trocas aconteceram ao menos desde aquela década na produção europeia e americana: a composição televisual de parte dos programas se fazia com base em esquemas fílmicos e, em contrapartida, o cinema adaptava elementos da TV, especialmente sua característica mais preeminente, a transmissão ao vivo, o que pode ser exemplificado com filmes como Os Incompreendidos, de Truffaut. Bordwell (2006) apontou a progressiva assimilação de características televisuais pelo cinema a partir dos anos sessenta, resultando no que ele chamou de “continuidade intensificada”: uso constante da montagem acelerada, movimentos de câmera, enquadramentos fechados e lentes com distância focal variada. A partir da mesma época, cineastas como Rossellini (La presa del Potere di Luigi XIV, 1966), Bergman (Cenas de um Casamento, 1973), Godard (Numéro deux, 1975) e Antonioni (O Mistério de Oberwald, 1980) criaram programas para a TV ou realizaram filmes com características técnicas deste meio, por exemplo a captação em vídeo e o tratamento eletrônico da imagem. O processo de troca se diversificava, alcançando nomes de proa do cinema moderno. No Brasil, em que pese a herança do rádio sobre a TV, o processo de interlocução entre os meios audiovisuais se fez presente. Em princípio, a hipótese sobre a radicalização de Hoje é Dia de Maria diz respeito a um dos lados da interlocução entre os meios, ou seja, a presença do cinema na TV. Admite-se que haja fundamento nas declarações de Luiz Fernando Carvalho, ainda em meados dos anos noventa (Almeida; Araújo), sobre sua formação teórica ter sido cinematográfica e quanto ao projeto de fazer cinema na televisão. Da direção de telenovelas nos anos noventa à de minisséries da década atual, sua trajetória indica a progressiva experimentação de elementos provenientes do cinema dentro do meio televisual. A partir de Lavoura Arcaica (2001), em que Luiz Fernando Carvalho demonstrou know-how fílmico, em especial pelo uso de esquemas narrativos do cinema de arte, sua produção televisual saltou das tímidas experiências de uma TV contemplativa e com elementos composicionais que façam sentido “como no cinema”, para a intensificação do processo, a ponto de as minisséries posteriores adquirirem características inéditas na produção televisual. Hoje é Dia de Maria constitui um denso aglomerado de referências intertextuais, variando da referência à cultura oral brasileira, aos contos de fadas e a clássicos hollywoodianos, combinada com uma sofisticação estilística incomum no meio televisual. Tendo em vista a concepção de Bordwell (1997) sobre a criação fílmica como resultante de um processo de resolução de problemas, entende-se que, diante do problema central de como veicular na TV um discurso tão desgastado na contemporaneidade quanto o da valorização dos sentimentos, o diretor tenha empreendido a experimentação de soluções ainda não encontradas na televisão. O resultado foi a incorporação de elementos do pós-modernismo cinematográfico, em especial do chamado neon-realismo. Entende-se que, em função desse processo, Hoje é Dia de Maria tenha características que tornam minissérie tão dessemelhante em relação à televisão quanto ao cinema, pois traços de ambos se fundiram de uma forma que deixam para trás os elementos mais típicos de ambos os meios. |
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Bibliografia | ALMEIDA, Candido J. M.; ARAÚJO, Maria Elisa. As Perspectivas da Televisão Brasileira ao Vivo. Rio de Janeiro: Imago, 1995.
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