ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Ruy Santos e o documentário militante |
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Autor | Maria Guiomar Pessoa de Almeida Ramos |
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Resumo Expandido | O que é o documentário do tipo militante ou mobilizador social?Essa questão ressurge hoje em dia em função dos novos meios de registro e recepção audiovisual e nos remete a uma época já bastante demarcada do cinema documental brasileiro:o final dos anos 1950, o marco inaugural do Cinema Novo com curtas Aruanda e Arraial do Cabo e na continuidade, sob a influência do Cinema Direto/Verdade,filmes com uma linguagem cada vez mais dirigida à consciência política identificada com os excluídos.Mas que momento é esse que precede o Cinema Novo,existe algum tipo de proposta mobilizadora como encontramos nesses documentários do Cinema Novo?Para pensar essa questão vou refletir sobre os documentários do fotógrafo e cineasta Ruy Santos que foi diretor de alguns filmes de ficção e também documentários como:Debret e o Rio de hoje, Terra seca, Dança e As missões junto ao DIP, dirige Marcha para a democracia, sobre as viagens de Prestes pelo Brasil,em 1945,Comício:São Paulo a Luís Carlos Prestes e Vinte quatro anos de luta junto ao Partido Comunista.No final dos 1950 realiza três curtas:A batalha dos transportes, Anatomia do progresso e A casa de Mário de Andrade,além da parte brasileira de um longa produzido por Joris Ivens. Em um breve panorama do documentário nas décadas 1930 a 1950 temos toda a obra de Humberto Mauro junto ao INCE,realizada no viés educacional com Roquette Pinto,uma outra produção na tradição dos ‘cavadores’ do cinema mudo,com a realização de filmes sob encomenda:Jean Manzon, Hebert Richers,Primo Carbonari e a partir dos grandes estúdios,Vera Cruz e Maristela,a produção dos curtas de Lima Barreto,Marcos Marguliés,Alexandre Wulfes,Salomão Scliar e outros que,animados pelas discussões dos congressos de cinema dos anos 1950,se envolvem com o documentário.Aonde inserir os filmes de Santos produzidos pelo Partido Comunista?(Dos três filmes somente o último existe, porém pretendo me utilizar de descrições e textos escritos sobre a relação do partido comunista com a produção de filmes).Qual a sua relação com as propostas de mobilização social ligadas ao Partido Comunista?O Comício: São Paulo a Luís Carlos Prestes (9min.,1945) retrata a preparação do comício e o encontro de Luís Carlos Prestes com os paulistas depois de dez anos preso pela ditadura de Vargas.Além de Prestes discursam Miguel Costa, líder da coluna Prestes, o poeta Pablo Neruda e na forma de inter-títulos temos uma mensagem de Monteiro Lobato. O Partido se encontrava na legalidade e esses filmes foram realizados através da “Liberdade Filmes”, produtora de Santos com Oscar Niemeyer,diretamente ligada ao comitê do Partido Comunista ao qual ambos pertenciam.O Comício é representativo do fim da II guerra mundial, da anistia geral aos presos que atinge Prestes, e da possibilidade do Partido se firmar como opção política viável.Mantém a linguagem do cinema mudo, onde as imagens do líder(Prestes)são contrapostas à da multidão, com inter-títulos que fazem referência a sua gloriosa existência(semelhante ao procedimento dos filmes de cavação do tipo ritual de poder).Pode ser identificado com o documentário clássico,do tipo expositivo, com características que o aproximam dos filmes de propaganda política dos anos 1930,mas,ao representar diretamente o Partido Comunista mostra um tipo de engajamento,explicitado pelo discurso fílmico,que em nada se assemelha com as produções de propaganda política.A participação efetiva de intelectuais como o poeta Pablo Neruda e o escritor Monteiro Lobato que aparecem no filme, além do próprio Santos e Niemeyer, produtores, são exemplos de um outro tipo de relação entre cinema e sociedade.De que maneira esses documentários de Ruy Santos antecedem algumas características que depois seriam desenvolvidas nos documentários dos anos 1960,(que explodem sob a linguagem do cinema direto/verdade),como as que apontam para o documentário como um instrumento de mobilização e conscientização das massas. |
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Bibliografia | RAMOS, Fernão e Miranda, Luís Felipe (org,) Enciclopédia do Cinema Brasileiro. SP. Editora SENAC, 2000.
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