ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Corpo e presença nas videoinstalações contemporâneas |
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Autor | osmar gonçalves dos reis filho |
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Resumo Expandido | O que pode o corpo? Quais são suas capacidades, suas posturas, seus desafios para apreender o mundo de forma sensível e não-conceitual? Esta talvez seja uma das questões centrais levantada pela experiência das videoinstalações.
Surgida na década de 60, essa prática videográfica caracterizou-se por estender os limites do pequeno ecrã televisivo, por expandir os domínios da imagem, transportando-a para ambientes arquitetônicos e cenográficos. Através desse movimento, elas não só criaram uma maior envolvência com o receptor, como passaram a demandá-lo de forma inteiramente nova – mais ativa, física e participativa. De fato, as videoinstalações colocam em jogo uma outra percepção do lugar do sujeito e do corpo na experiência audiovisual. Elas reconvocam um corpo, como observa Roland Barthes En Sortant du Cinema , posto para dormir, entorpecido e anestesiado, nas grandes salas escuras do cinema, transformando-o no agente central do processo comunicativo, em seu verdadeiro dispositivo. Ora, o que faz a força dessas obras é da ordem do sensível, de uma lógica da sensação: modos de apropriação não-hermenêuticos da imagem e do mundo. Trata-se, enfim, de experiências de presença, tal como a entende Hans U. Gumbrecht. Experiências aquém ou além da representação, mais interessadas na apreensão tátil e sinestésica dos fenômenos, do que na atribuição/busca de um sentido (cognitivo) qualquer. Pois bem. Esse artigo procura investigar a questão do corpo e da presença nesses espaços, como eles são demandados, como ela é modulada ou agenciada em três videoinstalações contemporâneas: Megatron/Matrix (1995), de Nam June Paik, Retratos in Motion: o Beijo (2005), de Luis Duva e Supension of Disbelief (1992), de Gary Hill. A primeira delas é um painel eletrônico composto por mais de 200 monitores, exibindo ininterruptamente imagens em contínua transformação. Trata-se de uma obra colossal, uma parede gigantesca com cerca de 11m de comprimento e 4m de altura, que foi apresentada pela primeira vez no Smithsonian American Art Museum, em 1995. Retratos in Motion: o Beijo, de Luis Duva, inspira-se no processo criativo do polêmico pintor irlandês Francis Bacon, para criar uma instalação em três telas, um tríptico – tal como os que consagraram Bacon. Nele, Duva nos apresenta uma imagem não figurativa, um beijo desfigurado, deformado, dado em estilhaços. Já em Suspension of Disbelief (1991), Gary Hill monta uma instalação deslumbrante que coloca em cena imagens fragmentadas do corpo. Neste caso, nós temos uma longa barra metálica composta por trinta monitores e disposta horizontalmente sobre a cabeça dos visitantes. Esses monitores foram na verdade alterados, tiveram sua carcaça retirada, seus acessórios e dispositivos suprimidos, até que só restasse o tubo catódico limpo. Colados uns nos outros, eles formam uma escultura horizontal, uma longa banda imagética que está conectada a um computador e a um gerador de vídeo. Cada uma delas trabalha questões específicas e tem uma maneira particular de agenciar o corpo, de modular a presença. De modo geral, no entanto, acabam empreendendo aventuras que se dão num mesmo campo. Todas colocam em jogo, de fato, uma percepção esgarçada, desprendida e porosa, uma percepção que antecede na mente todo pensamento articulado, toda produção de significado. Ora, ainda que essa região selvagem não siga as unidades, os cortes e os regimes da consciência representativa, ela não é amorfa ou desestruturada. Existe, como diz Merleau-Ponty, um logos do mundo sensível, uma lógica das sensações, da relação corpo-sensível, mundo-sensível . Este logos constitui o solo anterior à atividade reflexiva e é, em parte, responsável por ela. É este campo que nos interessa investigar, o modo como ele é agenciado ou modulado nessas obras particulares. |
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Bibliografia | BARTHES, Roland. En sortant du cinema. Communications 23, 1975.
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