ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Memória e resistência nos documentários sobre a ditadura argentina |
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Autor | Maria Celina Ibazeta |
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Resumo Expandido | A mães e as avós de Praça de Maio são duas das organizações mais importantes na América Latina na luta pelos dereitos humanos. A história destes dois grupos começou em 1977 durante a ditadura militar argentina (1976-1983). Os governos ditatoriais impuseram uma prática sistemática de sequestro e detenção ilegais, tortura e desaparecimento de militantes de grupos de esquerda e peronistas em mais de trezentos centros clandestinos. A infrutífera busca de informação sobre os filhos, levou as mães primeiro, e logo depois às avós, a estabelecer uma ação conjunta. A organização HIJOS (Filhos e filhas pela identidade, a justiça e contra o esquecimento e o silêncio) formada pelos filhos de pessoas desaparecidas surgiu em 1995, tem o objetivo de buscar justiça e punição aos culpados pela morte de seus pais. Durante mais de trinta anos estes grupos têm sido a voz dissidente da política estatal, a história ainda negada por muitos setores da sociedade.
Raúl Alfonsín, o primeiro presidente da democracia, criou a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (CONADEP) que investigou os crimes e violações dos direitos humanos e levou a julgamento os membros principais da ditadura, que terminaram sendo condenados. As posteriores leis do Ponto Final (1986) e Obediência Devida (1987) ditadas por Alfonsín sob a pressão de setores do exército, detiveram os processos judiciais contra muitos militares e civis envolvidos. Estas medidas foram apresentadas como uma forma de resolução definitiva do conflito em relação aos abusos da ditatura, um encerramento que dava a posibilidade de começar uma nova etapa. Para os familiares das vítimas, estas leis foram terríves atos de impunidade, que incitavam uma política de esquecimento. A forte divisão entre os grupos sociais que prefiriam não mexer no passado e os que lutavam por justiça se radicalizou ainda mais quando em 1990 o presidente Carlos Menem indultou a militares e guerrilleros. Durante a presidência de Néstor Kirchner as leis de Ponto Final e Obediência Devida foram anuladas, os indultos foram declarados inconstitucionais e se reabriram os casos judiciais. A proliferação de documentários argentinos ou co-produções sobre as sequelas da ditadura argentina nos últimos anos é uma clara mostra que o conflito em torno dos crimes da ditadura ainda não está resolvido e suas feridas não estão fechadas. O conceito de Elizabeth Jelin de memórias plurais nos serve para falar da memória como um espaço vivo onde entram em disputa pela legitimidade diferentes memórias, diversas versões sobre a História. A memória social argentina sobre o tema da ditadura é um espaço de muita controvérsia. Até hoje não há um consenso sobre o que aconteceu nem há uma postura conciliadora frente às diferenças. O interesse deste trabalho é analisar e comparar cinco documentários sobre a ditadura que utilizaram a memória como uma ferramenta política de resistência ao esquecimento forzado pelas políticas de Estado: Botín de Guerra (2000) de David Blaustein, Historias cotidianas (2001) de Andrés Habegger, HIJOS: el alma en dos (2002) de Marcelos Céspedes y Carmen Guarini, Nietos, Identidad y memoria (2004) de Benjamín Ávila e ¿Quién soy yo? Los niños encontrados en Argentina (2007) de Estela Bravo. As perguntas que orientaram esta pesquisa são: Quais são os recursos estéticos que utilizou cada documentário para reconstruir o espaço afetivo, subjetivo e versátil da memória? Como se inter-relacionam a memória pessoal e a memória coletiva (da organização)? Qual é a relação entre identidade de gênero e memória? Qual é a relação entre política e memória nas organizações e nos documentários? Como se estabelece o debate entre memórias divergentes? Quem são os aliados e os adversários das organizações no processo de resistência? Qual é o papel da sociedade civil nestes documentários e qual a relação entre a mesma e as organizações? Quais são discrepâncias dentro dos própios movimentos de resistência? |
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Bibliografia | ASOCIACION DE MADRES DE PLAZA DE MAYO. Historia de las madres Plaza de Mayo. Buenos Aires: EdicionesAsociación Madres de Plaza de Mayo, 1999.
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