ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O melodrama contemporâneo: o olhar domesticado e a qualificação do olhar |
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Autor | Lisandro Nogueira |
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Resumo Expandido | O texto propõe analisar estratégias narrativas no cinema industrial contemporâneo (filmes de Isabel Coixet e Clint Eastwood), que procuram renovar o melodrama canônico, fonte da noção de domesticação do olhar, ao mesmo tempo que apontam para uma aproximação com o cinema de autor e a sofisticação das narrativas modernas. O texto problematiza os entraves e os limites da proposta, e sinaliza para estratégias narrativas que, sem pretensões, ironizam, atualizam e envolvem de humor crítico o melodrama de base grifittiana.
O melodrama não é “superado” em filmes de Fassbinder, Almodóvar ou Mike Leigh. O melodrama é formulado em outra chave dramática, ironizado, colocado ao avesso e equalizado e atualizado em novas estratégias narrativas. O melodrama, gênero literário oriundo do século 18, entrou no cinema via David Griffith no início do século passado. Os filmes incorporaram a estética naturalista do século 19 (cenários tão verdadeiros com o objetivo de reproduzir a realidade, além da interpretação do ator, que, através do gesto e do movimento, contribui para a criação de uma realidade mimética), o padrão civilizatório ocidental de comportamento e a essência do pensamento cristão embalado pelo melodrama. Os filmes narrativos de estrutura clássica desde então têm em comum as convenções do melodrama. O velho gênero, em sua dinâmica e inquestionável capacidade de atualização e sedução, desde o século dezoito, enreda seus tentáculos nas narrativas, literárias, primeiro, e, depois, também cinematográficas. Ele organiza idéias e tipos de narração já cristalizados na cultura, com o objetivo de conquistar, em razão da comunicabilidade fácil, rápida e padronizada, a adesão maciça, já garantida. No cinema contemporâneo existem filmes que apontam para uma suposta superação do melodrama canônico, apesar de utilizarem estratégias narrativas afeitas ao gênero. Nesses filmes os procedimentos de consolação e vitimização, próprios do antigo gênero, parecem ausentes. Esse tipo de filme é considerado Cult, um termo cunhado pela indústria cultural, eficaz na maneira de hierarquizar referências e distinguir gostos do público. O olhar domesticado aparenta ser superado pelas escolhas realizadas que “sofisticam” a narrativa e rechaçam o melodrama. Os filmes de Clint Eastwood (Gran Torino e Meninos e Lobos) e Isabel Coixet (O encanto secreto das palavras e Fatal) são exemplos de estratégias narrativas que pretendem renvoar as narrativas com base em Griffith. Eles não renovam e não problematizam o velho gênero. Todavia, são cineastas contemporâneos como Fassbinder, Almodóvar e Mike Leigh que problematizam e atualizam as narrativas com base em esquemas melodramáticos. O ressentimento dos personagens, as sinalizações do pecado e a elevação das virtudes morais, além da mimeses que propõe a verossimilhança e as identificações rápidas para o espectador, são tópicos elaborados em formatos que permitem não uma pseudo-sofisticação do gênero, mas sim uma abordagem através da ironia, da paródia e da hibridização das narrativas. |
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Bibliografia | BROOK, Peter. The Melodramatic Imagination: Balzac, Henry James, and the Mode of Excess. Columbia University Press Morningside Ed, 2001.
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