ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | A interface como interlocução: espaço, presença, individual e coletivo no audiovisual |
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Autor | Ana Flávia Merino Lesnovski |
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Resumo Expandido | Pensar as fronteiras entre suportes requer compreender as características imprimidas pelas formas de produção e veiculação a uma obra audiovisual que possibilitem 1) a determinação de diferenças entre suportes, e 2) a detecção de similaridades que os emparelhem e/ou conectem. Quanto às fronteiras entre cinema e TV, estudos anteriores apresentados pela autora indicam a territorialidade do espaço espectatorial como um dos aspectos a serem estudados na tentativa de compreensão da alteração de percepção e experiência dentro de diferentes mídias. Havendo tratado anteriormente deste espaço de recepção como um terreno de jogo expandido e da interação como possibilidade inserida nas novas mídias, a autora propõe o estudo da interlocução entre suportes audiovisuais - cinema, TV e novas mídias - através da corporalidade espectatorial e sua relação com o espaço físico-geográfico. Com este objetivo em mente, o espaço de recepção é primeiramente observado em sua componente ritualística e agregadora: o espaço de cinema, por seu confinamento e caráter mágico; a TV em seu caráter pulverizador e integrável, e finalmente o ambiente virtual como sacralização e tribalização (como enxerga Diana Domingues) e, ao mesmo tempo, a “materialização” do virtual no espaço da cidade. A transferência da narrativa audiovisual para um duplo espaço – o real urbano e a virtualidade cibernética, ambos alheios ao confinamento cinematográfico clássico – estão presentes em formas narrativas em espécies de mídias de convergência. Trata-se, neste caso, não apenas de mídias que congregam sinais de fontes diversas, mas efetivamente mensagens que são mídias diversas em um só suporte inseparável. São analisados casos como “We Tell Stories”, série de sete narrativas incorporadas ao sistema Google Maps (serviço que contém navegação por imagens referenciadas geograficamente), que transfere à representação física de lugares reais a narrativa fragmentada por um espaço navegável (tanto real quanto virtualmente) pelo receptor. A autora propõe também a análise do projeto “Ela Não Está Aqui”, de sua autoria, projeto em desenvolvimento que propõe aplicar à prática a possibilidade de criação de uma obra ficcional interativa dentro de um sistema geo-referenciado na cidade de Curitiba. Nestas narrativas, segundo a reflexão proposta pelo artigo, encontramos uma duplicidade que empresta do cinema e da televisão alguns aspectos fundamentais, tornando-se uma possibilidade híbrida. Em espaço pervasivo, a experiência individualizadora da TV retorna à reunião de corpos do cinema, ainda que em ambiente virtual. Mas a reunião não se faz apenas para fruição da mensagem em partes individuais: o grupo e o indivíduo se confundem na difusão e na construção da mensagem em imagem, áudio, texto e, especialmente, geotags que constroem um mundo diegético e real ao mesmo tempo. As geotags, sustentação de programas como o Google Earth, derivado do sistema de mapas da mesma empresa, são formas de anotação geográfica em mídias de fontes diversas, de imagens e áudio a texto e links. Sua aplicação narrativa evidencia uma das faces da corporalidade espectatorial entre as fronteiras de que tratamos: o corpo do receptor como presença na narrativa e sua virtualização como parte do grupo. Desta forma, ao aplicar um conceito de convergência proposto ainda na TV Digital (texto central e rizomas paralelos) as narrativas híbridas no espaço geográfico condensam características tanto do cinema quanto da TV em uma forma híbrida que não é nem cinema, nem TV, nem vídeo, nem mesmo website: um terreno onde a recepção audiovisual é uma performance, onde o individual se relaciona com o coletivo, e onde as fronteiras talvez não façam mais sentido. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Narration in the Fiction Film. Madison: University of Wisconsin Press, 1985.
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