ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | A maioridade da direção de arte no Brasil |
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Autor | Débora Lúcia Vieira Butruce |
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Resumo Expandido | Com o vertiginoso crescimento da cidade de São Paulo desde o fim da 2ª Guerra Mundial, a cidade carecia de uma atualização cultural que atendesse às necessidades e ao gosto mais apurado de sua elite. O surgimento de diversas companhias além da Vera Cruz, caracterizando a chamada indústria cinematográfica paulista, parecia ir de encontro a intensa movimentação cultural que estava ocorrendo em São Paulo neste momento.
Conforme Galvão (1981), em um curto espaço de tempo, em torno de cinco ou seis anos, a burguesia paulista vai criar todo um aparato, baseado principalmente em instituições − escolas, museus, teatros − para a produção e difusão culturais. Remetendo ainda a Galvão (ibid.) é importante destacar que o cinema, encarado como arte menor que as tradicionalmente respeitadas como o teatro, a literatura ou as artes plásticas, vai fazer parte de um projeto de afirmação desta burguesia, que tentará impor através das manifestações culturais sua visão de mundo. Integrando esse renascimento artístico geral, merece destaque a criação do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) em 1948, iniciativa do grupo que ano seguinte participaria da fundação da Vera Cruz, principalmente a figura do empresário Franco Zampari, um dos fundadores. Alguns cenógrafos e diretores do TBC viriam a ser contratados para a Companhia Vera Cruz, como os italianos Aldo Calvo e Adolfo Celi. A Companhia Cinematográfica Vera Cruz é apontada (cf. Galvão, ibid.) como a primeira iniciativa deste porte que irá contar com o interesse e apoio da elite e dos intelectuais paulistas. A Vera Cruz pretendia sofisticar a produção cinematográfica brasileira, distanciando-se ao máximo das comédias carnavalescas cariocas, consideradas vulgares e popularescas, estabelecendo um padrão bem afeito ao gosto apurado das classes abastadas e se aproximando de um cinema de qualidade internacional. Para a concretização de tal empreitada chega ao país uma leva de profissionais estrangeiros para compor seus quadros. A Vera Cruz pode ser considerada como um caso à parte entre as suas contemporâneas, pois constitui-se como a mais ambiciosa tentativa de criação de uma indústria cinematográfica nacional. O seu modelo é hollywoodiano, mas a mão-de-obra importada, é européia. “Os técnicos trazidos por Cavalcanti [Alberto Cavalcanti] formam brasileiros em áreas tão distintas quanto a fotografia, a montagem, o som, a produção, a cenografia, os trabalhos de laboratório, a maquiagem”. (Paranaguá, 2000, p. 562). Mesmo os críticos mais ferinos da companhia nessa época admitem sua contribuição em termos de qualidade técnica. Além de enormes estúdios muito bem equipados com o que havia de mais sofisticado, a Vera Cruz elevou a cenografia a padrões internacionais de qualidade, excelência até então inexistente no Brasil. Fatores como o nível de acabamento dos cenários, a adequação da cor à atuação da iluminação em preto e branco, a mobilidade da câmera no cenário, e até a construção de uma cidade cenográfica (para o filme Tico-tico no fubá, de Adolfo Celi) ganharam extrema importância. O contexto de efervescência cultural e artística observado em São Paulo a partir de 1945 propicia o surgimento de outras duas companhias cinematográficas de grande porte na cidade: a Companhia Cinematográfica Maristela e a Multifilmes, além de várias outras pequenas produtoras. É neste contexto que pretendemos analisar o estatuto da direção de arte no período e sua inserção na criação de uma estética para o filme brasileiro desta época. |
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Bibliografia | ARAÚJO, Vicente de Paula. A Bela época do cinema brasileiro. São Paulo: Perspectiva, 1976.
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