ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Video de teatro: localização do fenômeno, apropriações e desdobramentos |
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Autor | Ana Amelia Brasileiro Medeiros Silva |
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Resumo Expandido | Esta comunicação se propõe a introduzir um reflexão sobre a relação entre teatro e vídeo, especificamente sobre o fenômeno dos videobooks das produções teatrais (como registros fílmicos das peças, entrevista de bastidores, cenas avulsas feitas especialmente para o vídeo, making off das produções etc.) e dos vídeos expostos na internet, através do site dos artistas e seus espetáculos, e também disponibilizados fragmentariamente em sites como o Youtube. O uso de vídeos dentro das produção teatrais tem se tornado freqüente no campo das artes performáticas, primeiramente como registro e documentação (exigidos em muitos editais voltados para o fomento ao teatro, inclusive) e cada vez mais nas formas de reapropriações reflexivas, imagéticas e fílmicas das apresentações teatrais. Aqui comento algumas experiências nesse sentido ligadas ao meu campo de pesquisa antropológica em torno de monólogos teatrais produzidos e apresentados no Rio de Janeiro, de 2007 para cá. Trato aqui de três produções específicas: a peça “O Animal do Tempo”, estrelado pela atriz e diretora Ana Kfouri; “A Alma Imoral”, protagonizado e produzido por Clarice Niskier; e o espetáculo “Anticlássico: uma desconferência ou o enigma vazio”, concebido e atuado por Alessandra Colasanti. Nos três casos, temos o uso do vídeo para o registro documental da atuação no palco. Neste caso, os vídeos são produzidos com ou sem edição, filmados em plano aberto do palco e/ou com closes em pontos específicos da narrativa, som direto, luz do palco, sem a indicação do diretor do vídeo como um ator relevante em relação àquele trabalho (quando muito, são dados os créditos da produtora que prestou o serviço). Esse registro integra os videobooks dos espetáculos e também são colocados na web (geralmente em formato de trechos ou pequenas montagens, como num trailer do espetáculo). A circulação deste produto, inicialmente, se dá entre os artistas/produtores e entidades de patrocínio e fomento. Mas é na exposição via web que vídeo de teatro ganha significados próprios, e em processo, como artefato expressivo autônomo (sem estar necessariamente subordinado ao espetáculo ao vivo, como um veículo de divulgação do mesmo). O vídeo torna-se um acréscimo à produção performática, mas ao mesmo tempo se emancipa da peça ao vivo. Aqui, cabe a discussão em torno da suposta perda da qualidade expressiva da cena teatral, quando esta é “aprisionada” pelo vídeo. No vídeo, a experiência “autêntica”, “imediata”, “viva” do encontro teatral, dada pela co-presença física do artista, do palco, da platéia e o compartilhamento das reações e sensações, se perderia. No entanto, se, como artefato expressivo, o vídeo perde a qualidade presencial da performance (por certo, também sujeita a uma série de relativizações), ele passa a incorporar atributos próprios, como a introdução de um imaginário que funde/tensiona a linguagem teatral (ligada à palavra e uma expressividade corporal peculiar) e o visionamento próprio do vídeo, bem como abre a possibilidade para novas experiências expressivas a partir da peça, como nas produções de making off (em “A Alma Imoral”) e na feitura de vídeos específicos para a web que dialogam com o discurso da peça, sem reproduzirem mesma (este último caso é exercitado especificamente por Alessandra Colasanti, dentro do blog da protagonista da peça e alter-ego “A Bailarina de Vermelho”). Institui-se com o vídeo novos lugares de reflexividade expressiva e discursos sobre a subjetividade do ator-autor, na medida em que é ele (nos casos pesquisados, em que as atrizes são as produtoras e mentoras dos monólogos) que define a concepção dos vídeos e modos de exposição do mesmo e é também ele – e não o diretor do vídeo, figura que praticamente desaparece aqui – que cria a imagem, pois se é a força expressiva do ator, que no teatro, sustenta a própria arte, essa força se transfere para esse tido de vídeo, cujo eficácia artística também está a cargo do ator. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica.
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