ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Matraga, Santo Cristo e William Munny; notas para o estudo das relações entre História e ficção |
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Autor | Joao Pinto Furtado |
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Resumo Expandido | Tomando como referência as relações entre a história vivida e suas representações no cinema e na canção, propomo-nos a investigar alguns aspectos teórico-metodológicos das relações entre diferentes linguagens e conhecimento. Nosso corpus documental privilegia três personagens que nos parecem apresentar profundas homologias. Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, João do Santo Cristo, da Legião Urbana, e William Munny, de Clint Eastwood (Os Imperdoáveis - 1992), nesse sentido, nos parecem apresentar certo tipo de problemática recorrente no que concerne as relações entre os mundos da ordem e da desordem. Ainda que situados em universos culturais e históricos distintos, todos nos parecem "experienciar", pela margem e, portanto, nas fronteiras, a experiência da imposição da ordem vis-à-vis suas próprias histórias e trajetórias de vida. Seja em um registro mais místico-transcendental no caso dos dois brasileiros, seja num registro algo mais “nacional” no caso de Munny, de fato os três personagens parecem procurar resistir à passagem do tempo tentando recuperar parte de sua história e a partir de um conjunto de práticas voluntaristas. Situando-se na contramão do Estado e da Lei, que nos contextos das três obras, insistem em se implantar, os três personagens acabam por conquistar a simpatia dos expectadores a partir de suas ações. O fenômeno também pode, por outro lado, expressar todo um sistema de valores partilhado por esses indivíduos e seus “personagens”, o que passa a organizar aspectos relevantes de uma certa visão de mundo. Mencionemos, nesse caso, as conexões que se estabelecem, mais contemporaneamente, entre a linguagem (letra e música) dos “Rappers”, o referencial das periferias urbanas contemporâneas e a visão de mundo que eles expressam e constituem. Nesse sentido, é preciso ter em mente que uma peça de audio-visual, entretenimento ou musical não é, diferente do que já se avaliou, uma mensagem poética stricto sensu, um ato de criação que se possa circunscrever apenas aos seus aspectos mais evidentes. Se no interior de determinadas escolas de pensamento acreditou-se, durante muito tempo que o “espectador típico” era uma espécie de “caixa vazia”, a ser preenchida pelo conteúdo daquela “caixa cheia de imagens e/ou sons”, a semiótica moderna tem colocado o problema em outros termos. Hoje se pode supor o receptor como um vetor co-participante do processo de comunicação, o que também nos permite explorar e discutir o problema do individualismo que, supostamente, emerge como característico das sociedades industriais e pós-industriais e que pode também contribuir para um melhor entendimento da recepção das obras referidas. Nesse sentido, a partir da produção cultural, buscamos a percepção dos temas do individualismo e da intimidade enquanto elementos simultaneamente expressivos e estruturantes de uma nova identidade urbana, o que certamente se reveste de alguma pertinência no que respeita ao exame do período pós-64 no Brasil. As representações culturais podem ser, portanto, consideradas um objeto de trabalho interessante, entre outros fatores, por seu grande alcance junto a largas camadas da população urbana e por sua inerente capacidade de despertar emoções e sentimentos que agregam, afetiva e momentaneamente, indivíduos que não se conhecem por vinculo direto. Discutir os problemas teóricos advindos, através de audição comentada e visualização editada destes registros é nosso objetivo. O conjunto de reflexões está, portanto, estruturado em torno da investigação acerca das ligações entre o processo vivido e as diferentes linguagens nas quais esta experiência se traduz e ao mesmo tempo se revela. |
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Bibliografia | DARNTON, Robert. O Beijo de Lamourette: Midia, Cultura e Revolução. São Paulo: Companhia das letras, 1990.
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