ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O Manicômio Óptico: cinema, percepção e loucura no início do século XX |
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Autor | Tadeu Capistrano |
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Resumo Expandido | A psiquiatria, a psicologia experimental e seus aparelhos de observações clínicas forneceram a alguns filmes do início do século XX um repertório de movimentos, gestos, tiques nervosos, gesticulações e expressões faciais através das imagens de seus personagens epiléticos, histéricos, sonâmbulos e loucos. Por outro lado, nesse mesmo período, também foram realizadas diversas experiências com a projeção de filmes e o monitoramento das respostas subjetivas e fisiológicas dos espectadores em momentos dramáticos ou cômicos, a fim de medir a intensidade exata das sensações despertadas pela exibição.
A exploração do movimento das patologias corporais pela visualidade tecnocientifica foi importante para a representação dos movimentos frenéticos e anárquicos, que eram visualizados no “cinema das atrações” e em alguns filmes das vanguardas artísticas. Além disso, os estudos psicofisiológicos acerca do estímulo-resposta corporal produziram as primeiras teorizações do cinema, considerado como uma espécie de “maquina hipnótica”, capaz de extrair reações motoras (ou “instintivas”) do espectador e manipular sua atenção, memória, imaginação e emoções, tal como fora analisado de diferentes modos por Bérgson, Munstenberg, Benjamim e Kracauer. Na tentativa de suscitar perturbações psicomotoras, recorrendo a uma estética rica em imagens vertiginosas, paroxismos visuais, fusões, anamorfoses, pulverizações, enlaçamentos, difusões e superposições, diversos filmes das duas primeiras décadas do século XX dialogaram com o discurso tecnocientifico da época, questionando e ironizando seus poderes e saberes referidos ao corpo humano. Além da obra de Georges Meliés, filmes como A Loucura do Dr. Tubo (Abel Gance, 1915), O Gabinete do Dr. Caligari (Norbert Wiener, 1919) e Páginas da Loucura (Kinugasa Teinosuke, 1926), podem ser muito inspiradores para analisar as relações entre cinema, tecnologia e percepção. Ao abordar a loucura sob diferentes perspectivas e tratamentos estéticos, os filmes aqui estudados representaram o próprio estatuto do cinema e seu espectador diante da emergência de novas formas de espetáculo, sistemas de controle psíquico e saberes tecnocientificos. Cabe analisar, portanto, entre outros elementos, a metáfora do cinema como um espaço de loucos, dirigidos por uma força tecnocientifica - o espectro cinematográfico - capaz de histericizar os sentidos, provocando a-luz-cine-ações. |
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Bibliografia | ANDRIOPOULOS, Stefan. Possessed: Hypnotic Crimes, Corporate Fiction and the Invention of Cinema. Chicago University Press, 2008.
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