ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Metropolis e a construção narrativa e plástica da antiutopia |
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Autor | Cristiano Figueira Canguçu |
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Resumo Expandido | Pioneiros da ficção científica, no cinema, existem desde Viagem à lua (Georges Méliès, 1902). Entretanto, foi só em 1927, com Metropolis (Fritz Lang) que ela começou a ganhar notoriedade enquanto gênero cinematográfico. A preocupação desta análise não é substantiva, com o que o filme realmente diz, investigando os aspectos ideológicos implícitos – liberais, social-democratas ou totalitários – do filme, mas analítica, no sentido de examinar como o filme é construído para dizê-lo. Trata-se de verificar como o imaginário da antiutopia é produzido dentro do filme, através de seus recursos narrativos (a história do filme e a sua trama, o modo de organizá-la) e plásticos.
A história de Metropolis é bastante esquemática e ingênua. Em 2026, a parcela mais rica da população vive em cidades grandiosas e tecnologicamente desenvolvidas; os mais pobres são explorados nas máquinas subterrâneas, realizando movimentos repetitivos em turnos desumanos. Um dia, Freder, filho do principal empresário – e governante – da cidade (Joh Fredersen), conhece a proletária Maria, por quem se apaixona e descobre as graves condições do trabalho proletário. Maria prega aos colegas operários a chegada do Mediador, o “coração” que poderá enfim conciliar a elite pensante da cidade (a cabeça) e os operários (as mãos). Enquanto isso, seu pai contrata do sombrio cientista Rotwang para que ele faça um robô idêntico a Maria, que faça os trabalhadores se revoltarem a ponto de justificar uma repressão. Após uma série de reviravoltas, Freder reconcilia o seu pai e os operários, cumprindo o seu papel de Mediador. Quanto à trama, mesmo sendo uma obra produzida dentro da escola do Expressionismo Alemão, Metropolis adota algumas diretrizes da narração clássica hollywoodiana consolidada em 1917. Estabelecem-se desde o início, por exemplo, personagens com caráter e objetivos claros e inequívocos. A principal norma narrativa é o princípio da causalidade, a qual rege todo o desenrolar do filme: não há espaço para digressões, tempos mortos ou pura seqüencialidade: cada evento narrativo (exceto, evidentemente, pelos primeiros) é necessariamente provocado por um precedente, que por sua vez é provocado por outro anterior, em uma linha causal clara e bem-amarrada que se encerra com uma vitória ou uma derrota sem margem de dúvida. Há, entrelaçada com a linha narrativa principal, uma subtrama amorosa; o empenho dos protagonistas tem sucesso e a obra se encerra com um final feliz. A principal diferença é o andamento da narrativa, distinto do modelo triplo proposto por Sid Field e discutido por Kristin Thompson. A dimensão plástica de Metropolis é muito mais peculiar. Metropolis é uma obra tardia da escola germânica, apropriando-se das influências do cinema hollywoodiano (como a iluminação de três pontos e a montagem de continuidade) e do impressionismo francês (o uso sistemático de fusões e sobreposições), resultando em um filme extremamente moderno para sua época. Mas as principais características estilísticas do filme são aquelas privilegiadas no Expressionismo Alemão: a iluminação expressiva, em chiaroscuro e com recorrentes projeções de luz e de sombras; a atuação fortemente pantomímica, mesmo para a época; e, principalmente, o emprego expressivo da cenografia e do figurino. A arquitetura, fortemente inspirada na Art Déco e misturando prédios nova-iorquinos com pirâmides e zigurates, é um recurso importante para caracterizar o mundo ficcional. A extrema uniformização dos trabalhadores é um dos principais recursos retóricos das antiutopias – Metropolis traduz a idéia em imagens impactantes, como as filas de operários trocando de turno. Metropolis instaurou uma das principais marcas do gênero: o investimento pesado em cenografia em efeitos especiais. Os cenários e figurinos continuaram a desempenhar funções expressivas em praticamente todos os filmes do gênero, que os tratam como recursos fundamentais para exprimir o caráter dos seus universos ficcionais. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Narration in the Fiction Film. Madison: University of Winsconsin, 1985.
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