ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Opostos em uma busca por imagens pessoais |
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Autor | Juliana Cardoso Franco |
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Resumo Expandido | A proposta deste texto é analisar o trabalho de duas cineastas bastante diferentes cuja parte representativa de seus trabalhos traz fortes traços autobiográficos e buscam uma estética da resistência. No caso da francesa Agnès Varda, ela nos apresenta há algumas décadas imagens que trazem um desejo de questionamento de como suas imagens podem transformar o mundo em que vive. Já a jovem japonesa Naomi Kawase realiza filmes cujo teor autobiográfico traz um universo extremamente pessoal e familiar, voltados para um espaço que parece exclusivo da cineasta.
Ambas trabalham em seus filmes com imagens que buscam uma nova forma de lidar com o mundo, como a de construir um sentido novo em suas vidas para o objeto que retratam no momento da elaboração do filme. É assim nos curtas japoneses “Tarachime” e “Embracing”, e nos franceses “Oncle Yanco”, “Ulysse” e “Le glaneurs et la glaneuse”. A partir de uma comparação entre trabalhos que se constroem com métodos que em alguns momentos parecem quase opostos – principalmente se nos referirmos à noção do “real” - pretendo explicitar quais espaços e métodos cada uma das diretoras escolhe para falar de si e de que modo constroem os universos ao redor de suas experiências. Duas diferenças entre as obras de Varda e Kawase - sem mencionar o contexto cultural - parecem primordiais: a presença das noções do cotidiano e do real em relação ao trabalho de Kawase, ao contrário da obra de Varda, que parece se sustentar mais através de uma constante construção em busca do inédito e da imaginação enquanto força de criação da obra; merece destaque também como Kawase remete a um universo mais familiar ou pessoal que o universo que Varda nos traz com suas imagens. No entanto, ambas as obras são marcadas pela noção bastante valorizada na atualidade da subjetividade e apostam em uma imagem marcada pela noção de intimidade, fazendo pensar como esse íntimo se torna parte da imagem de uma forma tão essencial e potente. Compreender o que essas diferenças trazem no tocante a uma posição em relação ao mundo (e à imagem, é claro) é um dos objetivos deste texto. As imagens de Kawase, trazem um núcleo bastante específico, com figuras familiares importantes para a cineasta, como o pai, a mãe e avó, etc. Por outro lado, a imagem de Varda, que possui um movimento quase oposto – revelar como o mundo se reflete nela a partir dos variados objetos que seleciona – parece exprimir um movimento sempre capaz de incluir mais um elemento a sua narrativa. Abordaremos também como essas formas de construção de imagens, que se dão através do fio condutor de uma narrativa que parte do mundo direto de cada uma das cineastas, evidenciam o poder “de dar a ver” de uma imagem e acabam por trazer a esta dimensão estética um forte teor político. Este se relaciona com o sentido do político que muitos teóricos que pensam sobre imagens contemporâneas associam a estas, como Jean-Louis Comolli, Giorgio Agamben e como Gilles Deleuze de certo modo introduziu com um conceito tão debatido como o da “potência do falso”. Por isso, o olhar desses estudiosos que buscam o afeto como um produtor de outros sentidos para as imagens acompanharão aqui os trabalhos analisados, ou seja, como, cada cineasta a sua maneira, convida o espectador a olhar de outra forma para o mundo que o rodeia, pois agora muitas das suas aventuras se dão através do afeto que trazem os corpos mais ou menos visíveis nas imagens. Por tudo isso, este texto surge de um interesse por três objetos que, ao mesmo tempo em que parecem diversos, estão no centro da nossa pergunta: quais relações podem ser sustentadas entre as obras de Varda, Kawase e a auto-reflexividade? Sem dúvida, há um denominador comum a essas obras a partir de uma reivindicação em torno de uma vida que se torna possível somente através da imagem e que se concretiza através de memórias pessoais, imagens e sonhos, estéticas e políticas pessoais que buscam constantemente papéis inéditos para as imagens. |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007.
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