ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Rohmer, o pictórico e o real, no retorno digital a Méliès e Griffith, em L’anglaise et le duc |
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Autor | Denise Costa Lopes |
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Resumo Expandido | L’anglaise et le duc(A inglesa e o duque, 2001), de Eric Rohmer, foca sua lente digital em cenários pintados de uma Paris do século XVIII, em plena Revolução Francesa. Assim é, ao mesmo tempo, digital/contemporâneo e pictórico/clássico. Baseado no diário de Grace Elliott, Ma vie sous la revolution, trafega entre o real, com ares documental, a encenação clássica, apreendida em D. W. Griffith, e as construções mágicas em estúdio de um Geoges Méliès.
Ao conjugar novas tecnologias a recursos formais e estéticos do passado, consegue resultados magistrais e inusitados que abrem uma fértil discussão acerca de um possível “diálogo no tempo” das invenções técnicas do cinema, como proposto por Arlindo Machado em Pré-cinemas e pós-cinemas; do cinema “como uma arte do espaço”, defendida pelo próprio Rohmer em 1948, em Le cinema, art de l’espace; das diferenciações entre pictórico e fílmico, virtual e real, cinema e pintura; e de como, contra todos os preceitos realistas da imagem e mesmo da “perspectiva artificialis”, identificada por Amount em A imagem, L´anglaise... traz para a tela uma atmosfera realista a partir de um recurso ‘anti-natural’ de colocar pinturas em cena no lugar de construções verdadeiras ou de cenários que tentam passar por 'verdadeiros'. “Não me interesso muito pela realidade fotográfica(...) mostro a Revolução como a viam os que a viveram. E tento tornar as personagens mais próximas da realidade que encontramos nas pinturas”, diz o próprio Rohmer no press-book do filme. Rohmer_ como preconiza A. Machado, de que muitas das “formas e procedimentos das atuais mídias eletrônicas e digitais” retoma, recupera ou faz ecoar “atitudes retóricas e tecnológicas já antes experimentadas nas formas pré-cinematográficas e no cinema dos primeiros tempos”_, faz, no mesmo texto, referências explícitas a Griffith, e a Méliès. “Griffith me ajudou a perceber outra coisa: eu estava a pensar como iria filmar exteriores, isto é, como inserir as personagens no cenário pintado. Deveria filmar planos-seqüência ou contra-planos que tornariam a instalação do processo ainda mais complicada? Ao ver Orphans of the Storm(1921, Griffith) outra vez, apercebi-me de que a sua força, a maior parte das vezes, devia-se ao fato de cada plano ser absolutamente fixo. Por isso fiz planos fixos, e planos mais aproximados com uma segunda câmera.” E completa: “Já tinha realizado dois filmes históricos antes: La Marquise d’O(1976), em décors reais, e Perceval le Gallois(1978), inteiramente em estúdio. Sabia que nenhum dos métodos daria um retrato autêntico de Paris. Por isso tive a idéia de inserir personagens reais em pinturas(...)fiéis à topografia da época. Este processo é um dos truques mais velhos do cinema: Méliès foi sem dúvida um dos primeiros a utilizá-lo". L´anglaise... reflete ainda sobre a noção de perspectiva, "uma transposição, mais que, 'simbólica'(...) trans-histórica com o real", segundo Amount, em O olho interminável, sobre Cassirer. “Como é que as personagens podiam “entrar” nos cenários(...) tivemos de adaptar um pouco (...) a perspectiva da Rue Saint-Honoré devia ter 200 metros, e o plateau só 40. Tivemos de filmar a seqüência em várias partes(...) A vantagem é que o resultado é mais verdadeiro do que se eu tivesse montado tudo, do que se eu tivesse pegado em pequenos pedaços de casas e de telhados com ângulos estranhos para evitar as antenas de televisão(...) Gosto de mostrar o cenário tal como ele é(...)Gosto de pegar na realidade tal como ela é, mesmo que seja uma realidade que eu criei através de pinturas, como neste caso. A realidade vem da pintura e não da montagem”. Colocar a pintura como fonte de ‘verdade’_ de acordo com a definição de Nelson Brissac Peixoto em artigo para Imagem Máquina, organizado por André Parente_ só mesmo utilizando a linguagem do vídeo: “Imagem complexa_ amálgama que compõe uma textura dotada de densidade e volume. O vídeo permite esta pregnância em que pintura, fotografia, cinema e arquitetura ‘fazem corpo’". |
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Bibliografia | AMOUNT, Jacques. A imagem. SP: Papirus, 1993.
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