ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Vertigens de uma terra experimental: ficção científica no cinema argentino |
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Autor | Alfredo Luiz Paes de Oliveira Suppia |
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Resumo Expandido | O objetivo deste trabalho é mapear e discutir as manifestações da ficção científica no cinema argentino. Segundo a Enciclopédia de Ficção Científica criada pela revista eletrônica argentina Axxón , seis títulos de longa-metragem figuram como os componentes de um cinema de ficção científica argentino. Antes deles, porém, pelo menos dois títulos argentinos já poderiam figurar como cinema de ficção científica ou, pelo menos, proto-FC. O primeiro filme argentino passível de associação à ficção científica que se tem notícia é El Hombre Bestia o las Aventuras del Capitán Richard (1934), com argumento, direção e fotografia de C. Z. Soprani.
O primeiro filme de FC argentina mencionado pela Axxón é Invasión, lenda de uma cidade imaginária ou real, sitiada por fortes inimigos e defendida por poucos homens, que por acaso não são heróis. Lutam até o fim, sem suspeitar que sua batalha é infinita. Derivado de argumento escrito por Jorge Luís Borges e Adolfo Bioy Casares, e com roteiro de Borges e do próprio diretor Santiago, Invasión é um filme-enigma de FC argentino que cruza os gêneros noir e fantástico, antecipando os conflitos internos na Argentina dos anos 1970. Com roteiro e direção de Eliseo Subiela, Hombre mirando al sudeste (1986) vai fabular sobre a chegada a um hospital psiquiátrico de um jovem estranho que diz ter vindo de outro planeta. Passível de leitura em chave alegórica, Hombre teria sido plagiado nos EUA com o título de K-Pax (2001), filme dirigido por Ian Softley. Outras produções de destaque neste mapeamento do cinema de ficção científica argentino são Moebius (1996), de Gustavo Mosquera, filme inspirado no tema da “Faixa de Moebius”, e o longa de estréia de Fernando Spiner, La Sonambula (1998) - escrito em colaboração com Ricardo Piglia e Fabián Bielinski. Esses dois títulos geralmente inspiram leituras alegóricas referentes ao trauma da ditadura militar argentina. Os filmes argentinos de FC mais recentes são Adiós Querida Luna (2004), Filmatrón (2007), de Pablo Pares, e La Antena (2007), de Esteban Sapir. Adiós Querida Luna, comédia de FC dirigida por Fernando Spiner, é um dos dois únicos filmes argentinos cujas narrativas se passam no espaço sideral, com direito a uma espaçonave e astronautas. Antes dele houve apenas um longa equivalente, El Satélite Chiflado (1956), dirigido por Julio Saraceni e com roteiro de Máximo Aguirre, em que dois comediantes viajam o cosmos e trazem de volta a Terra duas beldades do planeta Saturno. Embora pequena, a produção argentina relacionável ao gênero apresenta razoável diversidade, bem como riqueza temática e formal, compreendendo comédias de fina ironia e dramas alegóricos dentre os exemplos de maior expressão. Sob o espectro de Borges, Bioy Casares e Cortázar, o cinema argentino demonstra uma desenvoltura destacada com relação à matéria-prima fantástica. O país produziu uma safra proporcionalmente razoável nos anos 1980, um período de forte imposição dos blockbusters americanos, e entrou na década de 90 com pelo menos dois títulos importantes para uma cinematografia de ficção científica latino-americana. A premiação de filmes com temática fantástica ou de ficção científica parece mais costumeira na Argentina que no Brasil. Com efeito, se nas manifestações da FC no cinema brasileiro não se identifica uma presença significativa do Realismo Fantástico, o mesmo não se pode afirmar em relação à cinematografia argentina. Desde os primeiros filmes de FC argentinos o Realismo Fantástico é acolhido sem hesitação. Uma das hipóteses para a maior familiaridade de diretores e críticos em relação ao cinema de ficção científica na Argentina seria justamente a visibilidade da literatura fantástica e do Realismo Fantástico no país, em torno de autores como Jorge Luís Borges, Adolfo Bioy Casares, Júlio Cortazar, etc. |
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Bibliografia | BAXTER, John. Science Fiction in the Cinema. New York: A.S. Barnes & Co./London: A. Zwemmer Ltd. 1970.
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