ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | A escola portuguesa: o cinema português na década de 1980 |
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Autor | Paulo Cunha |
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Resumo Expandido | No início dos anos 80, o cinema português assistia ao recender de uma polémica que se iniciara durante a década de 60 e que dividira de forma irreconciliável a geração que promovera a afirmação e o reconhecimento do novo cinema português dos anos 1960-70. O centro da polémica continuava a ser os destinos dos subsídios públicos à produção cinematográfica: por um lado, alguns cineastas e produtores reclamavam fundos para a concretização de um “cinema comum para espectadores comuns”; por outro, os acérrimos defensores de um “cinema de autor” vocacionado para um circuito cinéfilo internacional alternativo.
Até meados dessa década, a política cinematográfico portuguesa hesitou sobre que apoio financeiro deveria conceder a estas duas tendências. Por esses anos, obras de autores como Manoel de Oliveira, António Reis, João César Monteiro ou Paulo Rocha registaram um significativo reconhecimento em prestigiados certames cinematográficos internacionais. Simultaneamente, filmes de José Fonseca e Costa e de António-Pedro Vasconcelos registaram valores de bilheteira surpreendentes e inéditos para o cinema português. A opção do poder político acabou por recair pelo designado “cinema de autor”. Coincidindo com a entrada de Portugal no espaço económico comum europeu (1986), esta opção sustentava-se em argumentos culturais e económicos: com um mercado interno insuficiente para assegurar a viabilidade de uma indústria cinematográfica portuguesa, o poder político acreditava que não seriam os filmes “destinados ao grande público e ao mercado interno” que trariam o retorno financeiro e reconhecimento cultural ao investimento público português, mas sim os “filmes difíceis de realizadores portugueses que encontram formas de financiamento complementares no estrangeiro”. Nesta tomada de posição política não terão sido indiferentes as orientações estéticas e culturais assumidas pelo Instituto Português de Cinema, pela Escola Superior de Cinema e pela Cinemateca Portuguesa. De resto, considero que estas duas instituições públicas desempenharam um papel crucial na definição da política cinematográfica portuguesa desde esse período até à actualidade. Depois que adquiriu a sua autonomia administrativa e financeira (1980), a Cinemateca Portuguesa deixou de ser apenas um arquivo de preservação e uma sala de exibição esporádica com ciclos ocasionais para passar a ter um papel determinante na formação de público cinéfilo e na legitimação de um certo cinema português, o tal cinema que o poder político passou a proteger e a privilegiar: um cinema de “vitalidade cultural” que trazia a Portugal a tão valorizada “projecção internacional”. O inicio da internacionalização da carreira cinematográfica de Manoel de Oliveira contribuiu também decisivamente para reforçar a confiança na estratégia da política cinematográfica de então. A acompanhar Oliveira, eram entretanto reconhecidos nos principais certames cinematográficos europeus vários outros autores portugueses que reforçaram no exterior a ideia de uma “escola portuguesa” de cinema “com centro e cerne em Manoel de Oliveira”. Contudo, em Portugal, o público insistia em ignorar essa “escola portuguesa” e os seus “filmes que ninguém via” e preferia o cinema dito comercial ou “o cinema de todos nós”, que somavam números significativos nas bilheteiras portuguesas. Ao longo dos últimos trinta anos, o confronto entre o “cinema de autor” e o “cinema de público” tem surgido de forma cíclica e recorrente no debate público sobre o cinema português. O que se pretende nesta apresentação é reflectir sobre o conceito de “escola portuguesa” que é utilizado para definir uma certa tendência da produção cinematográfica portuguesa das últimas três décadas. Interessa sobretudo conhecer o corpus desta “escola”, os autores que lhe são associados, as suas estratégias criativas, as suas filiações estéticas e artísticas e a recepção das suas obras junto da crítica especializada e dos diversos públicos, quer nacional como internacional. |
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Bibliografia | AA. VV. Cinema Novo Português 1960-1974. Lisboa: Cinemateca Portuguesa, 1985.
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