ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | A representação da subjetividade: o EU refletido no OUTRO. Comparando Jogo de Cena e Santiago |
|
Autor | Maria Dora Genis Mourão |
|
Resumo Expandido | O gênero documentário se expandiu e abriu espaço para novas formas de expressão que, em um movimento panorâmico e circular, ampliam seu foco experimentando novos modos de representação e de enunciação.
Rompe-se a tradição clássica de observar ou refletir predominantemente sobre o Outro e incorpora-se o Eu, iniciando uma busca pelo lugar do sujeito na representação do mundo. Eduardo Coutinho em Jogo de Cena (2006) cria um jogo entre personagens e atores que representam algumas dessas personagens, todas mulheres, contando suas histórias de vida sentadas em um palco de teatro, inseridas dentro da cena teatral da qual também fazem parte o próprio Coutinho e o equipamento de filmagem. Metáfora mais do que evidente do teatro da vida. É na interlocução com as entrevistadas e na estrutura de montagem que constrói o filme, que Coutinho vai se fazer presente transformando-se, podemos dizer, em narrador de si mesmo. João Moreira Salles em Santiago (2006) quer contar a história do mordomo de sua família, no entanto sua performance como diretor e entrevistador manipula de tal maneira o discurso, que o filme que deveria ser sobre a figura fascinante de Santiago , estudioso e conhecedor de dinastias e aristocracias de todo o mundo, dá uma guinada e nos surpreende ao evidenciar a relação entre o cineasta João Moreira Salles e o mordomo Santiago, entre o patrão e o empregado, desvendando-se uma relação de poder que expõe a identidade do autor de maneira a também transformá-la em foco do filme. Tanto num como noutro filme o sujeito autor, o realizador que define o lugar da câmera e o foco de seu olhar, se torna objeto do mesmo olhar. Não se trata de um ato autobiográfico revestido da intenção de desenvolver um espaço subjetivo tão característico da tradição literária que se volta para o eu, mas de um jogo instaurado entre os personagens que estão diante da câmera e por detrás dela e que transformam essa mesma câmera em um espelho de duas faces, ora vendo-se refletidos ora refletindo-se no outro. Esta comunicação visa refletir sobre como no documentário o ato de filmar e de agenciar as imagens e sons captados a partir de uma idéia inicial, podem passar por um processo de transformação abrindo espaço para o surgimento de sentidos outros que estavam latentes, mas que, no caso dos filmes em questão, se evidenciaram principalmente nos procedimentos de montagem. Montagem vista como um modo de pensar e de conceber novas idéias. Jogo de Cena e Santiago são exemplos de estruturas complexas de representação do EU e do OUTRO que criam significados através da articulação das cenas documentais filmadas e transformadas em fragmentos de uma realidade que se completa na montagem. |
|
Bibliografia | AMIEL, Vincent. Esthétique du Montage, Nathan, Paris, 2002.
|