ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Reggae em filme: arranjos audiovisuais de territórios musicados |
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Autor | Leonardo Alvares Vidigal |
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Resumo Expandido | Nos últimos quarenta anos, muitas produções cinematográficas e audiovisuais, dirigidas por realizadores de diversas partes do mundo, se dedicaram ao gênero de música popular conhecido como reggae. Estes filmes abordaram de maneiras diferentes as relações entre a prática musical e os territórios onde se situam aqueles que a produzem. O presente artigo analisa os documentários "Reggae", do trinidadiano Horace Ové e "O Bonde do Rastafari", da brasileira Cynthia Sims.Partindo de uma perspectiva transcultural, por meio destes dois “arranjos audiovisuais de territórios musicados”, propomos um estudo sobre o modo como tais produções cinematográficas constroem a nossa perspectiva sobre a música, os lugares e as pessoas nelas abordadas. O cinema contribuiu e continua contribuindo decisivamente para construir perspectivas compartilhadas, tanto interna quanto externamente, acerca de países como Jamaica e Brasil.Em relação ao Brasil, podem ser citados os filmes de Carnaval, os filmes estrelados por Carmen Miranda e outras produções que se tornaram conhecidas mundialmente, como "O Pagador de Promessas" e, mais recentemente, "Cidade de Deus", que têm na música popular um elemento, mais do que importante, constituinte da apresentação audiovisual. No âmbito interno, os documentários também se destacaram, a começar pelos curtas-metragens feitos por Humberto Mauro para o INCE (Instituto Nacional de Cinema Educativo), passando por longas-metragens como Doces Bárbaros e produções recentes, como "Banana is my business" (sobre a vida de Carmen Miranda), "Vinícius" e "Cartola", todos alicerçados pela trilha sonora e pelas performances de artistas de renome.
Na Jamaica também aconteceu um processo parecido, iniciado após a emancipação política da ilha, ocorrida em 1962. O marco inicial da constituição de um conceito audiovisual de Jamaica, é "This is Ska", um média-metragem dividido em duas partes, realizado em 1964, que constituiu a primeira tentativa de se documentar o que estava acontecendo musicalmente na Jamaica por uma equipe local. O filme mostra não apenas a emergência de um novo estilo musical, mas também como a autonomia política garantiu aos jamaicanos o direito de produzir a sua própria paisagem sonora. O filme "Reggae" não se valeu dessa fonte específica, mas sim da perspectiva totalizante, fechada, apresentada primeiramente por "This is Ska", acerca da música praticada em uma ilha que ainda se confundia, aos olhos da antiga metrópole inglesa, com as outras colônias caribenhas. "O Bonde do Rastafari: histórias do reggae carioca" é um média-metragem produzido como trabalho de conclusão de curso da diretora Cynthia Sims, pelo qual se formou em cinema na Universidade Federal Fluminense. O "Bonde do Rastafari" é composto basicamente por depoimentos e performances, prescindindo de identificação das pessoas filmadas pelo uso de letreiros ou legendas, construindo assim um ponto de vista endógeno. Isso ocorre tanto no tocante à produção, totalizando um coletivo musical e religioso, quanto na recepção, pressupondo que o público seja capaz de saber quem é quem, sugerindo que se trata de um filme produzido pela e voltado para a comunidade por ele. "Reggae" é um documentário com cerca de sessenta minutos de duração, dirigido em 1970 por Horace Ové. Ele tem como fio condutor o primeiro grande festival de música popular na Europa a tomar o gênero reggae como referência. Até o início dos anos 1970, os filmes realizados sobre a música praticada na Jamaica, deram a ouvir uma paisagem sonora variada e ainda não estabilizada em um relato de gênero unificado. As relações possíveis entre os dois filmes ajudam a elucidar o processo de construção de um conceito musical de Jamaica e de rastafarismo e sua apropriação em outros contextos, como o Brasil, mais exatamente o Rio de Janeiro. |
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Bibliografia | BARROW, Steve e DALTON, Peter. Reggae: The Rough Guide. Londres: Rough Guides, 1997
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