ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Violência e realismo nos filmes de João Canijo |
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Autor | Daniel Ribas |
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Resumo Expandido | João Canijo é, reconhecidamente, um dos novos autores do novíssimo cinema português, conjuntamente com um grupo de realizadores que se impuseram no panorama cinematográfico português, renovando o conceito da “Escola Portuguesa” (e onde se incluem autores como Pedro Costa, Teresa Villaverde, João Pedro Rodrigues ou Miguel Gomes). Esta novíssima geração desenvolveu, desde o início dos anos 90, um conjunto de projectos significativo, alcançando legitimação no circuito dos principais festivais internacionais e procurando uma voz específica no contexto do cinema português. Este movimento autoral marcou a diferença com o cânone estabelecido, optando por novas estratégias temáticas e cinematográficas.
É, pois, neste contexto que, nos últimos 10 anos, Canijo desenvolveu um corpus de filmes significativo a nível da crítica e da recepção internacional (esse corpus está representado em quatro longas-metragens: Sapatos Pretos, Ganhar a Vida, Noite Escura e Mal Nascida), de que é paradigma a sua presença consecutiva em duas edições do Festival de Cannes. A sua obra também foi alvo de uma legitimação avassaladora na crítica nacional. Apesar de não pretendermos analisar a complexidade da obra do autor, para simplificarmos, as grandes questões que atravessam o cinema de João Canijo passam, sobretudo, por três vectores essenciais: (1) uma necessidade de fazer, nos seus filmes, um retrato da identidade nacional; (2) a utilização da tragédia grega clássica como suporte textual base para uma adaptação contemporânea; e, finalmente, (3) a sua abordagem cinematográfica e estética. A junção destes três vectores permitem esclarecer a densidade do seu cinema e atribuir uma marca autoral que é devedora de uma tradição do cinema de autor em Portugal. Esta comunicação pretenderá abordar apenas as suas últimas quatro longas-metragens já que constituem, do nosso ponto de vista, a sua fase da maturidade. Esta investigação centrar-se-á no ponto de vista da orientação estética destes filmes, deixando os dois outros vectores nas inter-ligações que, necessariamente, estabelecem com esta orientação. Pretender-se-á, também, fazer uma leitura contextual desta pesquisa com a tradição recente do cinema português – a “Escola Portuguesa” – e com a geração dos anos 90. Em termos sumários, poderemos afirmar que a abordagem estética de Canijo opta por uma construção cinematográfica diversa da usada pela “Escola Portuguesa”, sobretudo devido à sua exigência realista em diferentes planos: a direcção de actores, a construção fotográfica ou a movimentação de câmara (onde se abordará a ideia de um plano sequência fragmentado). Este caminho realista é, sem dúvida, uma característica contemporânea e que atravessa também as tendências do novíssimo cinema português (a partir dos autores que se afirmaram no final da década de 90), mas, em Canijo, opta por uma abordagem própria, sobretudo pela intensidade de todos os meios empregues (e, nesse sentido, tentaremos investigar o conceito de hiper-realismo). Esta dimensão estética implica também, como consequência da sua visão realista e da utilização de tragédias gregas como texto base, uma dimensão violenta, que pretenderemos afirmar como uma característica distintiva do cinema de Canijo. Esta violência passa, é claro, pela estrutura narrativa adoptada, mas também pela dimensão gráfica que esta violência assume no ecrã. Em conclusão, esta comunicação questionará as opções puramente cinematográficas e que envolvem uma carga criativa visual determinante no contexto da obra do realizador. |
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Bibliografia | BAPTISTA, Tiago (2008). A Invenção do Cinema Português. Lisboa, Tinta-da-China.
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