ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Casamento Branco, Protagonistas Negros |
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Autor | José Gatti |
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Resumo Expandido | Este trabalho faz parte de um projeto mais amplo, que pretende realizar um estudo comparado das cinematografias brasileira e sul-africana, tendo por foco principal a representação das relações raciais e considerando também relações de classe social, gênero, sexualidades e contextos lingüísticos. O foco deste estudo será direcionado sobre o período que corresponde, no Brasil, à retomada da década de 1990 até hoje e, na África do Sul, ao cinema pós-apartheid. Em ambos os países, esse período marca a busca por um diálogo com novos segmentos de público, anteriormente afastados do cinema produzido localmente, assim como por novas formas e gêneros. Surgem também novas tecnologias de exibição e estruturas de financiamento e produção. Ao mesmo tempo, nos dois países emerge uma nova geração de cineastas, de formação universitária, que inclui um número significativo de mulheres e representantes de grupos étnicos e sociais não-hegemônicos, fato inédito até os anos 1990. Uma abordagem comparativa poderá revelar elementos inesperados entre duas cinematografias aparentemente muito diferentes e apontar para caminhos possíveis num período em que a globalização dos meios de comunicação se intensifica.
Mesmo que se evite equiparar duas culturas cinematográficas de contextos históricos, culturais e econômicos tão distintos, pode parecer estranho, à primeira vista, uma proposta de estudo que tenha por objetivo compará-las, especialmente no que se refere à representação racial e étnica, já que a história dos dois países é marcada por grandes diferenças nessa área. Durante muitas décadas aprendemos, no Brasil, que o país era uma "democracia racial", enquanto que a África do Sul sempre foi conhecida por seu sistema político e administrativo segregacionista, baseado em noções de superioridade racial. No entanto, uma aproximação comparada da história dos cinemas dos dois países demonstra que foi justamente nesse campo -- o cinema e, posteriormente, a televisão -- que algumas contradições que dizem respeito à convivência étnica e racial foram expostas de forma contundente. Seja corroborando a visão oficial -- na África do Sul, o apartheid; no Brasil, a democracia racial -- seja contestando-a -- especialmente em filmes engajados contra a discriminação racial, em ambos os países -- o cinema desempenha papel importante em países caracterizados por grandes parcelas analfabetas da população. Dentro dessa perspectiva, o pouco contato que pude ter com o cinema sul-africano já me alertou para possibilidades de pesquisa. Para isso, comento alguns fragmentos da história do cinema daquele país e relaciono-a com a do Brasil. Como exemplo de cinema que se anuncia na África do Sul pós-apartheid, o filme White Wedding (Jann Turner, 2009) se coloca como pioneiro na representação de raças. Realizado dezoito anos depois da queda do apartheid, a obra rompe com todos os preceitos estabelecidos pelo cinema dos anos do apartheid. O filme apresenta, inclusive, elementos que podem ser considerados utópicos no contexto de uma nação ainda em formação, na qual identidades raciais, étnicas e lingüísticas passam por profunda revisão. Os autores do roteiro são negros (e também atores principais), a diretora é branca e o elenco é multi-racial. |
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Bibliografia | ARAÚJO, Joel Zito. A Negação do Brasil, São Paulo: Senac, 2000.
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