ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Som e ritmo interno no plano-sequência |
|
Autor | Fernando Morais da Costa |
|
Resumo Expandido | É nosso objetivo comentar como mesmo em diferentes cinematografias, em propostas fílmicas variadas, em períodos distintos da história do cinema, há pelo menos um denominador comum: no plano em que as imagens pouco se movem, é papel da trilha sonora ampliar a sensação de movimento para o espectador, o que atenua a impressão de imobilidade.
Exemplo importante para este trabalho se encontra na filmografia de Theo Angelopoulos, especificamente em Um olhar a cada dia (1995). Nos momentos nos quais há a situação especial do plano-sequência, da ação que se desenvolve longa no plano sem cortes, o som gera um ritmo interno. Por vezes, isso acontece por conta de sons que realmente estão colocados sobre as ações, como a voz do narrador ou a música, por vezes por sons que vêm de dentro da ação. Mesmo nos planos-sequência nos quais a imagem não passa a impressão de imobilidade, devido à, por exemplo, movimentação da câmera ou dos atores, o fato é que se contrapõem à falta de cortes na imagem os cortes no som. Pense-se, para exemplificar este caso, no célebre início de A Marca da maldade (1958). No caso de plano-sequência com imagem fixa, a mobilidade do som, em parte inerente ao fenômeno sonoro, mas também explicitada pelos cortes na trilha-sonora, ganha outras funções. No Brasil, Leon Hirzsman chegou a declarar, sobre sua adaptação para o São Bernardo de Graciliano Ramos (1972), que procurava fazer o som se deslocar em planos nos quais a imagem era fixa e vice-versa, instaurando assim uma dinâmica curiosa em um filme baseado no recurso do plano-sequência. Há experiências recentes que valorizam a contemplação através da imobilidade exacerbada da câmera. Em Five (2003), de Abbas Kiarostami, os movimentos sutis dos sons estimulam no espectador o renovar da atenção sobre imagens cujas informações já estão dadas desde os primeiros fotogramas. Em Andarilho, de Cao Guimarães (2007), efeitos óticos, como superexposição e distância focal que não corresponde à localização do objeto fotografado, fazem com que a apreensão daquele objeto pelo espectador seja inconclusiva. Porém, o som, apresentado de maneira realista sobre a imagem abstrata, materializa o objeto. Por exemplo, um caminhão que vem ao longe. |
|
Bibliografia | BAZIN, André. O cinema: ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.
|