ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | A animação como estratégia em dois documentários brasileiros |
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Autor | India Mara Martins |
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Resumo Expandido | Até o lançamento de Botinadas (2006) e Dossiê (2008) havia no Brasil somente dois documentários, que poderíamos chamar de animados, A história da calcinha (2001), de Gordeeff e Cartas da Mãe, (2003), Fernando Kinas, Marina Willer. Mas nenhum deles alcançou a repercussão conseguida por Dossiê Rê Bordosa, de César Cabral. O curta de 16 minutos foi lançado no Festival É Tudo Verdade, onde recebeu Menção Honrosa. Rê Bordosa, a personagem tema do documentário animado, é uma das muitas personagens criadas pelo cartunista Arnaldo Angeli, para as tiras da revista Chiclete com Banana. A técnica de animação escolhida para contar sua história foi stopmotion (animação com bonecos), justamente por se tratar da morte de uma personagem de quadrinhos. A sinopse do filme explica que ele “se propõe a analisar, de forma documental”, as causas que levaram o autor a "matar" a personagem no auge da sua maior popularidade. A narrativa é investigativa: os perfis do 'assassino' e da 'vítima' são construídos ao longo do filme. Depoimentos, imagens de arquivo e reconstituições do crime são os materiais para esse filme cheio de verdades e mentiras, em que ficção e realidade se confundem (Site Dossiê, 2008). O aspecto ficcional está na participação de outros personagens criados por Angeli no mesmo período que Rê Bordosa, como o Bob Cuspe e o Bibelô. O documentário Botinada! A Origem do Punk no Brasil, (2006), de Gastão Moreira, fala sobre as origens do movimento punk a partir da memória dos entrevistados, muitas vezes desperta pelo material encontrado pelo próprio Gastão Moreira. Apesar da emoção e o envolvimento do próprio diretor com a música, o documentário tem um estilo seco e direto. Gastão deixou os seus entrevistados conduzirem a narrativa e usou recursos como vinhetas animadas para separar as seções e animação – para ilustrar algumas situações cômicas e dificuldades relatadas pelos protagonistas de bandas como: Cólera, Olho Seco e Restos de Nada. Ao longo de quatro anos (de 2002 a 2006) Gastão Moreira reuniu 200 horas de material em vídeo, 77 entrevistas e digitalizou 2000 imagens. O maior desafio de toda a produção do vídeo documentário foi localizar os punks. O diretor gravou entrevistas com mais de 70 pessoas relacionadas ao movimento punk brasileiro. Punks de todo Brasil, jornalistas, cineastas, bandas e simpatizantes. “O meu critério foi ter o maior número de visões possíveis sobre o assunto” (Moreira, 2006) Apesar de apresentar em sua maior parte imagens do estilo fotográfico (as entrevistas são em vídeo e temos uma grande quantidade de fotos e imagens de arquivo de televisão, de documentários), Botinada faz uso de animação no material gráfico (cartazes, capas de discos de vinil, fanzines, anúncios de shows, ilustrações) e a utiliza no contexto narrativo com a função retórica de representar situações do passado. As imagens de arquivo e as fotografias não foram tratadas, para manter o aspecto “sujo” e ser fiel à estética punk. Mesmo as imagens das entrevistas, que foram realizadas de julho a dezembro de 2002, receberam uma texturização leve, para ter unidade com as imagens de arquivo (fotos e filmes). Botinada, em nossa opinião pode ser chamado de documentário animado, justamente porque nos momentos em que utiliza animação, o faz de forma criativa e amalgamada ao conteúdo live-action. Os dois documentários animados analisados fizeram uso criativo da animação, seja na concepção geral, como é o caso de Dossiê, seja na criação das vinhetas e animações para representar a memória dos protagonistas do punk no Brasil, em Botinada. Outro mérito dos dois trabalhos é uma característica muito cara ao documentário atual: a multiplicidade de pontos de vista, que viabiliza várias leituras de um fato, brinca com as certezas e faz do documentário um projeto cinematográfico em constante transformação. . |
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Bibliografia | IUÁ, Pedro e MENDES, Bernardo no site http://www.stopmotionbrasil.art.br/
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