ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Tempo, memória e vídeo: o presente colapsado |
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Autor | Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho |
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Resumo Expandido | A partir de uma discussão de fundo sobre a apropriação de imagens de arquivos – familiares, públicos, privados, pessoais, televisivos, anônimos – procedimento cada vez mais recorrente na produção artística contemporânea em todo o mundo, das artes visuais aos produtos midiáticos, passando especialmente pelo documentário, desenvolve-se, nesta comunicação, a questão mais geral das temporalidades nas práticas artísticas com imagens em movimento, identificando alguns procedimentos, os quais remontam, por vezes, à história do cinema e da videoarte, de produção de diversas formas de apreensão ou percepção do tempo. Entre esses procedimentos que emergem no cinema com o documentário e na videoarte dos anos 60/70, privilegiam-se, aqui, obras em que o presente “entra em colapso”, segundo os termos de Rosalind Krauss, por força da simultaneidade entre a recepção e a projeção de uma imagem mediada por um personagem-espectador. Tal procedimento pode ser encontrado em obras de video artistas como Richard Serra (Boomerang, 1974) e Peter Campus (Three Transitions, 1973 e as instalações mem e dor). Nestas obras, a apreensão de um sentido de presente é inviabilizada pela simultaneidade de passado e presente, visíveis “lado a lado”. Em Boomerang, por exemplo, o que está em jogo é uma ruptura com o mecanismo de apreensão da passagem do tempo e com a imagem ou o pensamento deste mecanismo. Neste vídeo, de cerca de 10 minutos, a personagem, Nancy Holt, enquadrada rigidamente em um close, escuta, por meio de um fone de ouvido, sua própria voz, com um pequeno delay, ao mesmo tempo em que tenta explicar oralmente a situação em que se encontra: como o feedback sonoro interfere em seu pensamento, produto da falta de sincronismo entre o que ela ouve e o que ela fala. Há aqui uma percepção simultânea do passado (o que ela acabou de falar) e do presente (a percepção da passagem do passado e a tentativa de explicá-lo), que colapsa um no outro, aproximando-se do que Bergson formula a respeito do “mergulho na intuição” como imersão na duração, que possibilitaria ao sujeito pensar o tempo como continuidade indivisível. O vídeo é um meio que possibilita este tipo de experiência porque é capaz de gravar e transmitir ao mesmo tempo, produzindo o que Rosalind Krauss denomina “instant feedback”. Tal procedimento aponta para uma potencialidade do vídeo de produzir formas diferenciadas de apreensão do tempo em comparação com as consagradas pelo cinema clássico de ficção ou documentário. |
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Bibliografia | BERGSON, Henri. Matéria e Memória. São Paulo: Martins Fontes, 1990. BERGSON, Henri. O Pensamento e o Movente. São Paulo: Martins Fontes, 2005. CRARY, Jonathan. Suspensions of Perception – Attention, Spectacle and Modern Culture. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 2000 DIDI-HUBERMAN, Georges. Images Malgré Tout. Paris: Les editions de Minuit, 2003. KRAUSS, Rosalind. Video: The Aesthetics of Narcissism, in LEIGHTON, Tanya (org.). Art and the Moving Image – a critical reader. Londres: Tate/Afterall, 2008. |