ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | 'Pai e filha', 'Não por acaso': cotidiano, lugar e deslugar |
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Autor | Sandra Fischer |
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Resumo Expandido | 'Pai e filha' (Japão, 1949, Yasujiro Ozu), cidade de Kamakura nos idos do pós-guerra: imagens do cotidiano de pai e filha desconcertados ante a probabilidade da separação anunciada, ponto que interromperia fluxos de convivência e rotina em curso desde sempre. 'Não por acaso' (Brasil, 2007, Philippe Barcinski), cidade de São Paulo na contemporaneidade: imagens do cotidiano de pai e filha unidos pelo acaso e desorientados pelo advento do encontro inesperado, ponto de partida que deflagra fluxos de convivência e rotina que nunca antes aconteceram. Distintos e distantes geográfica e cronologicamente, dois diretores focando as lentes na rotina das relações familiares. Banalidade, repetição, topicalizações: dois pais, duas filhas, dois lugares. Dúvidas, hesitações, perplexidades: lugares outros? A proposta deste trabalho é apresentar um estudo explorando a dimensão poética das configurações imagéticas que delineiam, na tela de cada um destes dois filmes, o lugar do deslugar no cotidiano – ou daquilo que estamos, provisoriamente e na falta de um significante apropriado, denominando deslugar. A partir dos lugares que se estabelecem, nos referidos universos fílmicos, vertical e horizontalmente, no bojo dos nós que regulam as teias dos relacionamentos sociais que se estendem no dia-a-dia, examinaremos os deslugares que se instalam, transversalmente, nas brechas que perfazem estas mesmas teias. Deslugares que se definem tanto como espaços de desconforto e estranhamento, instabilidade e provisoriedade em oposição ao conforto e familiaridade, estabilidade e permanência dos lugares pré-dimensionados, quanto como possibilidades de movimento e abertura em contraposição à estagnação e à clausura. O presente estudo, inserido no âmbito de um projeto de pesquisa que vem investigando, no cenário do cinema brasileiro dos últimos anos, os modos de presença de produções que se ocupam da dita trivialidade cotidiana, apresenta-se com um dos muitos textos nos quais temos buscado aproximar o cinema do cotidiano e da banalidade realizado por Yasujiro Ozu do cinema de diretores brasileiros que também focam suas lentes na miudeza rotineira de cada dia; a despeito das especificidades culturais e contextuais, tal análise comparativa justifica-se tanto no sentido de orientar a definição de percursos investigativos, quanto no intuito de definir categorias iniciais que facilitem e viabilizem 1) a detecção e a identificação dos traços estéticos e temáticos que caracterizam, em termos fílmicos e cinematográficos, a emergência deste discurso do cotidiano e da intimidade e 2) o entendimento a respeito das articulações deste discurso com a dita realidade social. Fundado na problemática da dimensão estética do cinema, o trabalho encontra-se alicerçado em preceitos teóricos advindos de estudos contemporâneos de cinema e de estudos estético-culturais; desenvolve-se na esteira de pesquisadores como, entre outros, Jean-Marie Floch (com suas noções a respeito das relações semi-simbólicas), Gaston Bachelard (questões relativas à poética do espaço), Eduardo Peñuela (a metáfora do encerramento, a corrosão do relato falocêntrico), Denilson Lopes (a estética da sutileza, das invisibilidades, do cotidiano), e Zygmunt Bauman (fluxos, vida líquida, sociedade líquido-moderna). |
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Bibliografia | BACHELARD, G. A poética do espaço. São Paulo: M. Fontes, 2000.
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