ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Os sons ao redor: Sergio Leone e a continuidade intensificada |
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Autor | Rodrigo Carreiro |
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Resumo Expandido | O conceito da continuidade intensificada foi proposto por David Bordwell (2006, p. 120) e afirma que os princípios clássicos de estética e narrativa que governam a prática cinematográfica vêm sendo submetidos a uma operação de intensificação cujas origens podem ser rastreadas nos anos 1960. O processo de continuidade intensificada, então, consiste na criação de um repertório de recursos narrativos e estilísticos que busca intensificar a experiência fílmica. O autor norte-americano sugere que, embora muitos recursos de estilo e táticas narrativas tenham sido introduzidos desde então, os princípios gerais da construção narrativa, constituídos durante a fase clássica do cinema, continuam valendo:
O que mudou, tanto nos registros mais conservadores quanto nos mais vanguardistas, não foi o sistema estilístico da construção cinematográfica clássica, mas sim certas ferramentas funcionando dentro desse sistema. (...) Desde os anos 1960, essas técnicas foram trazidas para o primeiro plano, de formas inéditas em décadas anteriores. (...) De maneira geral, as novas ferramentas não desafiam o sistema; elas o revisam. Longe de rejeitar a continuidade tradicional em nome da fragmentação e da incoerência, o novo estilo aponta para uma intensificação das técnicas estabelecidas. A continuidade intensificada é a continuidade clássica elevada a um nível maior de ênfase (BORDWELL, 2006, p. 120). Em sua pesquisa, Bordwell mapeou alguns dos recursos narrativos e estilísticos usados pelos cineastas para intensificar a continuidade clássica, ao longo das cinco décadas seguintes. Do ponto de vista temático, alguns desses recursos são: representações mais realistas do sexo e da violência; protagonistas mais inseguros ou moralmente ambíguos; tendência ao alusionismo (citações a filmes anteriores); caracterização mais complexa de personagens; atenção àacuidade histórica. Na construção narrativa em larga escala, algumas características da continuidade intensificada seriam: a divisão menos clara da narrativa em três atos; o uso de mais de um protagonista; a fragmentação cronológica e espacial das tramas, com cenas mais curtas e não-lineares; relações causais ambíguas entre os eventos que compõem a trama. No que se refere à prática estilística, esses recursos incluem: montagem visual rápida; câmera mais próxima dos atores; movimentos de câmera incessantes. Juntas, essas ferramentas estilísticas teriam propósitos que Bordwell resume da seguinte maneira: Alguns cineastas têm procurado refinar a tradição, explorando seus princípios mais minuciosamente. Esses criadores se perguntam: (...) como posso fazer as conexões causais mais prazerosas, as reviravoltas mais inesperadas, a psicologia dos personagens mais envolvente, a excitação mais intensa, os temas mais firmemente explorados? (BORDWELL, 2006, p. 51). Como se vê, a pesquisa de Bordwell é centrada nos aspectos pictóricos. Ele não leva em consideração as técnicas estilísticas de construção da banda sonora dos filmes. Este artigo pretende examinar algumas ferramentas que proporcionam, através do som, a experiência intensificada de fruição, usando o trabalho de Sergio Leone como estudo de caso. Partimos do pressuposto de que os filmes do diretor italiano ofereceu contribuições significativas à estética da continuidade intensificada, do ponto de vista sonoro. Uma análise cuidadosa da maneira como o diretor italiano trabalhava o som permite destacar alguns recursos recorrentes na prática estilística dele. Todas são ferramentas que influenciaram gerações posteriores e podem ser relacionadas à continuidade intensificada: uso consistente de ruídos naturais amplificados (planejados para imprimir efeitos emocionais e guiar o modo como o público percebe as imagens); economia de diálogos e utilização de efeitos sonoros na condução da narrativa; inclusão de elementos diegéticos na música, resgatando influências da música concreta; sincronização cuidadosa entre sons, movimentos de câmera e cortes visuais. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. Moderno? Por Que o Cinema se Tornou a Mais Singular das Artes. Campinas: Papirus Editora, 2008.
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