ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Filmes: mapas culturais do espaço geográfico |
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Autor | Maria Helena Braga e Vaz da Costa |
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Resumo Expandido | Esse trabalho promove uma reflexão sobre as imagens cinematográficas como formadoras culturais do espaço geográfico. A idéia é discutir o cinema enquanto uma linguagem partícipe na concretização em realidade das visões, imaginações, entendimentos e concepções sobre o espaço geográfico desmistificando a concepção dos defensores do conceito de representação como uma contrapartida de um real existente e que com nossas linguagens o representamos. Pretende-se, portanto, defender a noção de que, com nossas linguagens, com filmes mais particularmente, partimos das sombras na direção do real para darmos a ele existência, não ao contrário.
A idéia defendida aqui é a de que há sim uma correlação estreita entre a imagem fílmica de um determinado espaço geográfico e sua contrapartida na realidade concreta, mas não pela via do entendimento da imagem fílmica como representação do real, e sim do entendimento da imagem e do espaço narrativo, tanto como elemento constituinte da própria formação, experiência e entendimento do espaço geográfico real quanto como um dos elementos responsáveis pelo imaginário coletivo e cultural que substanciam sua existência e sua experiência permite. Por ser o cinema um aparato enraizado na ideologia do realismo, tradicionalmente considerado como um “meio de reprodução do real”, filme teria a capacidade de estreitar as relações entre o mundo real e sua imagem produzida. No entanto, partindo do princípio que filme não é representação, o objeto fílmico pode ser pensado em relação a sua independência do objeto real a ponto de considerá-lo como apto até mesmo a tomar o lugar do objeto real. Filmes servem não somente como objeto para a crítica, mas como re-ordenamento das “imaginações geográficas” que adquirimos do mundo. Por isso mesmo Crang (1998) explica que: “… o conhecimento da maioria das pessoas sobre a maioria dos lugares se adquire através da mídia de vários tipos (p.44, tradução minha). Se filme (assim como outras linguagens - fotografias, mapas, textos literários, etc.) fosse considerado como um meio de inventar espaços e lugares na mesma medida em que é resultante das maneiras de imaginar e pensar o espaço, e menos como um meio de representação do mundo, todo e qualquer filme teria uma marca nítida que o conectaria diretamente como a forma de criação e produção humana inserida no contexto sócio, econômico, político e cultural e que seria identificada com facilidade no próprio espaço real. Mas filmes são vistos sob o contorno do espelhamento do real e como sendo tributários da linguagem do próprio espaço para dizer de si mesmo através da sua imagem. Proporei aqui um modo alternativo para a tendência mencionada. Os caminhos de pesquisa mais promissores, em minha opinião, são aqueles que negam, antes de qualquer coisa, a idéia de representação, uma vez que isto evita a criação da idéia de que o espaço é uma superfície lisa, que ele é algo estático, um corte no tempo, uma simultaneidade integrada, com conexões inter-relacionadas, sem desencaixes, por onde flui uma única história. Filme deve ser pensado como um acontecimento resultante de articulações e desarticulações entre as multiplicidades simultâneas que coexistem em certo lugar. Todo filme, com suas imagens geográficas, apresenta o mundo de determinada forma, sob determinado olhar e entendimento espacial. Proponho que pensar o filme como produto do encenar ações em locais distantes e seqüenciá-las como se fizessem parte de um único espaço, pode ser o ponto de partida para a desmistificação da idéia consensual sobre filme como cópia direta do real. O espaço geográfico no filme é uma imagem criada por imagens “escolhidas” previamente e que, juntas, são capazes de dizer muito sobre como a imagem geográfica é de certo modo produto da imaginação e da subjetividade de atores partícipes na concepção e realização desses mundos agindo como uma “ponte” indispensável ao entendimento dos espaços e dos lugares que vivenciamos. |
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Bibliografia | Barnes,T.J.;Duncan,J.S.(Eds)Writing Worlds: Discourse, Text & Metaphor in the Representation of Landscape.London:Routledge,1992.
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