ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Sociologia e Cinema: em torno dos filmes sobre a ditadura militar |
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Autor | Caroline Gomes Leme |
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Resumo Expandido | No desenvolvimento da pesquisa “Cinema e sociedade: sobre a ditadura militar no Brasil”, propomos uma aproximação entre a sociologia da cultura de Raymond Williams e as considerações de Pierre Sorlin acerca das relações entre cinema e sociedade, no entendimento de que as obras fílmicas, enquanto produções culturais intrinsecamente relacionadas ao processo social geral, podem ser consideradas meios legítimos e diferenciados para o conhecimento da sociedade, uma vez que são constitutivas da realidade social, produzindo significados, valores e proposições expressados através de sua construção própria.
Considera-se que há uma relação íntima – o que não significa homologia direta e unívoca – entre cinema e sociedade e que os filmes revelam um juízo sobre os fatos passados, propõem interpretações e expressam representações e posicionamentos. Assim, segue-se pela vereda da análise sociológica do cinema, examinando a filmografia que se reporta à ditadura militar brasileira, com o intuito de analisar os enunciados social e culturalmente construídos a respeito do regime militar vigente no Brasil de 1964 a 1985. Ainda que nosso enfoque não se volte especificamente para questões estéticas, um dos pontos basilares para a condução da pesquisa é a compreensão de que a obra fílmica constitui um objeto de estudo singular, com características peculiares oriundas da combinação entre imagem, movimento, som e texto. Assim, é importante conhecer os recursos e técnicas próprios do meio cinematográfico, de modo a compreender os mecanismos de construção audiovisual do argumento fílmico. É essencial o entendimento de que o conteúdo se dá no construir-se. Como explica Sorlin (1985), é na construção fílmica que se expressam as interpretações e os juízos sobre o passado e o presente. Logo, segundo ele (1985, 1994), não importa apenas o que o filme diz, mas como diz, isto é, para nenhuma análise fílmica é suficiente a sumarização do enredo ou a descrição dos temas desenvolvidos nos filmes, havendo de se considerar a maneira pela qual a história é construída audiovisualmente. Ademais, entende-se como fundamental o cuidado para não construir uma homologia direta entre cinema e sociedade. Conforme ressalta Sorlin (1985), é infrutífero interpretar um filme a partir do contexto sócio-histórico em que está inserido, ilustrando-se o que já se sabe; assim como não é interessante estudar a obra fílmica e generalizar o apreendido como um retrato da realidade social, pois seria construir uma equivalência entre filme e sociedade que se confirma reciprocamente, não revelando nada de novo. Pierre Francastel (1973), tecendo considerações acerca da relação entre Sociologia e Arte, corrobora o alerta, enfatizando o equívoco de se recorrer às obras artísticas apenas para justificar ou ilustrar conhecimentos previamente elaborados com base em outras fontes. É fundamental compreender a especificidade que faz das obras de arte algo que não é meramente manifestação, “substituto” ou “duplo” das outras atividades humanas. Ao fazê-lo, descobre-se nelas fontes de pesquisa singulares, originais e legítimas, que “conferem ao historiador, assim como ao sociólogo, elementos de informação que de outro modo não possuem” (FRANCASTEL,1973,p.4); sendo que “[...] toda análise mais sutil de obra de arte depende do conhecimento de uma sociedade e fornece elementos de informação necessários ao conhecimento dessa sociedade” (FRANCASTEL,1973,p.96). Nos limites e objetivos da pesquisa ora citada, considera-se que não convém adentrar na contenda a respeito do caráter artístico ou não do cinema, mas analisar os filmes como parte da cultura, entendendo que as considerações feitas por Francastel (1973) em relação às obras de arte são pertinentes para o estudo das produções culturais em geral, pois, sendo expressões artísticas ou mercadorias culturais massivamente comercializáveis, as obras culturais são singularmente significativas e trazem elementos ímpares para o conhecimento da sociedade. |
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Bibliografia | FRANCASTEL, P. A realidade figurativa: elementos estruturais de sociologia da arte. São Paulo: Perspectiva, 1973.
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