ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Quem tem medo do Spirit de Frank Miller? Efeitos da (in)fidelidade nas bilheterias |
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Autor | Denise Azevedo Duarte Guimarães |
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Resumo Expandido | Toma-se como objeto de estudo o filme The Spirit (2008), uma adaptação da obra de Will Eisner, que Frank Miller roteirizou e dirigiu. Investiga-se sua proposta tradutória, inserida no projeto gráfico e cinematográfico de Miller, a partir de Sin City (2005) e de 300 (2006), com ênfase na recusa dos padrões naturalistas em nome da fidelidade ao material impresso. Busca-se uma reflexão sobre a inusitada concepção mimética do filme, ao usar a técnica, efeitos computadorizados, cenários e imagens virtuais, na reconstrução estilizada das cenas dos quadrinhos. No que tange à espectatorialidade do filme e a questão de ser considerado um “fracasso de bilheterias”, indaga-se até que ponto a opção pela ruptura dos padrões hegemônicos das adaptações das histórias em quadrinhos para as telas - fenômeno que, por mais de quatro décadas tem movimentado a indústria do entretenimento – poderia produzir efeitos negativos nas respostas do público. Problematiza-se de que modo o conceito de um acréscimo de informação estética, por romper com o horizonte de expectativas do público em geral, opor-se-ia a uma audiência mais ampla. A hipótese é que o filme The Spirit coloca-se naquela situação limítrofe entre arte e tecnologia, onde um redimensionamento das ferramentas associa-se a uma proposta inventiva, mas não necessariamente à garantia de bilheterias. Sua proposta diferenciada ainda se constitui em problema comercial, diante de um público majoritariamente formado por apreciadores dos filmes de ação e aventuras nos quais os efeitos especiais são ostensivamente privilegiados. Embora surjam exemplos inventivos na cena contemporânea, a indústria cinematográfica continua a apostar na repetição dos padrões e na pirotecnia dos efeitos especiais, como forma de assegurar a inserção de cada nova adaptação de quadrinhos no horizonte de expectativas do público em geral e conquistar bilheterias mundo afora. O fato é que, ao romper com as expectativas da maioria, o filme arca com o ônus do efeito de estranhamento causado em uma multidão de espectadores habituados à experiência da ilusão naturalista, típica do cinema tradicional. Trata-se da questão do repertório do público, que nada mais faz do que refletir uma cultura global empobrecida – daí porque tantas referências são feitas por intelectuais contemporâneos ao entulho quantitativo que nos impõe uma espécie de lixo audiovisual, nas mais diversas áreas. Imperam os clichês, os lugares-comuns, a vulgaridade e o mau gosto, além do kitsch, porque os níveis de audiência, por exemplo, importariam mais do que a qualidade da informação, seja ela estética ou não. Poder-se-ia falar numa paradoxal hipertrofia sígnica que alimenta as percepções e o imaginário coletivo. Nesse sentido, as adaptações de HQs para o cinema, por exemplo, seriam continuamente reforçadas por estereótipos que se dirigem à "inteligência emocional" do espectador; ou seja, destinam-se à percepção direta das emoções e necessidades afetivas ou corporais. A espectatorialidade vincular-se-ia a uma instrumentalização da racionalidade, em favor de sensações e emoções exacerbadas, que são estrategicamente codificadas para determinadas ações e reações ligadas a uma ilusão epistêmica. Ao recusar o viés da ilusão naturalista, a proposta estética do filme de Miller provoca efeitos opostos: agrada a poucos e é acusada de infidelidade ao mestre Eisner. Na adaptação The Spirit, nada é como no cinema tradicional, porque a opção pela sugestão da bidimensionalidade visual da narrativa gráfica conduz a uma imediata suspeição da verossimilhança. O processo tradutório das páginas para as telas demonstra que, mesmo tendo à disposição todas as ferramentas da tecnologia para os efeitos 3D, capazes de criar cenas o mais próximo possível do real, a produção do filme opta, paradoxalmente, por colocar toda a técnica não a serviço recriação da realidade, mas sim a serviço da ficção, optando pela artificialidade como proposta tecnoestética. |
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Bibliografia | EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
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