ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Mocinhos e Bandidos: o policial brasileiro como gênero na TV |
|
Autor | Luiza Cristina Lusvarghi |
|
Resumo Expandido | Violência urbana e seriados policiais parecem estar na ordem do dia no Brasil. No ano passado, enquanto a Fox Channel lançava a sua série policial brasileira 9 mm, a Record Entretenimento anunciava seus planos de transformar em filme a série “A Lei e o Crime”.a segunda temporada de “Força-Tarefa” (Task-Force), um seriado sobre um destacamento policial especial, voltado para combater a corrupção dentro da corporação, no Rio de Janeiro.
A ideia deste trabalho é tentar compreender esta nova onda nacional a partir dos conceitos propostos por Jason Mittel, entendendo a questão do gênero na televisão não como algo intrínseco ao texto ou ao cinema, mas como uma categoria cultural (MITTEL, 2004), uma vez que para ele o conceito de categoria leva em conta tanto as práticas culturais quanto as práticas de audiência dentro de um contexto cultural. Entendemos ainda ser importante a definição de Nestor Canclini que vê na atualidade a importância da produção de obras interculturais, conceito que ele estabelece como em conflito com o termo transnacional que representaria a predominância do monopólio dos grandes grupos de mídia internacionais sobre a produção local e regional (CANCLINI, 2008). Para entender a relação entre os seriados policiais brasileiros contemporâneos e as tradições locais dentro de um contexto cultural especificamente nacional, e ainda sua relação com seus congêneres estrangeiros, é fundamental abordar o surgimento dos filmes de crime dentro do cinema nacional, pois no Brasil os cop shows não vieram do rádio, como ocorreu nos EUA e Inglaterra. A tradição literária brasileira, ao contrário da européia e norte-americana, não gerou obras espelhadas no gênero policial, e muito menos escritores como Dashiel Hammet, Agatha Christie ou mesmo um George Simenon. A literatura brasileira de suspense, as histórias de detetives constituem fenômeno mais recente. Esta tendência pode ser identificada em algumas obras produzidas a partir da década de 90, e se situa entre a paródia, a partir das referências de HQ, como o detetive Ed Mort, de Luis Fernando Veríssimo , que acabou se convertendo em filme, e os romances policiais urbanos de Luiz Alfredo Garcia-Roza e seu detetive Espinoza, um típico morador de Copacabana, que também vai virar seriado, como ocorreu com o Mandrake de Rubens Fonseca, que saiu pela HBO. No início do cinema nacional, a crônica policial e a sátira política sempre foram fontes de inspiração. A crônica policial alentou as primeiras produções brasileiras de sucesso, e os títulos dos filmes praticamente resumiam a crônica policial daquele tempo. Em 1908, supõe-se que tenha surgido o primeiro filme de ficção, “Os Estranguladores” ou “Fé em Deus”, baseado em um crime real ocorrido no Rio. Dois adolescentes foram estrangulados por uma quadrilha composta por Gerônimo Pegatto, dono do barco Fé em Deus. A história foi encenada ainda em teatro. A professorinha de São Paulo que anavalhou o noivo na terça-feira de carnaval resultou em “Tragédia Paulista” , também distribuída com o titulo “Noivado de Sangue” (1908), a estória do estrangulador Miguel Trad que esquartejou sua vítima e a despachou dentro da mala originou “O Crime da Mala” no mesmo período (Salles Gomes, 1980, p. 32). Explorar crimes no cinema em uma época sem televisão era um filão inesgotável. Em 1913, três fitas giram em torno deste tema: “O Caso dos Caixotes”, baseado em um assalto, “O Crime de Paulo Matos”, com o assassinato do industrial Adolfo Freire, e “O crime dos banhados”, um longa sobre o massacre de uma família com cerca de duas horas! Essas produções eram extremamente simplórias, montadas com muita rapidez para entrar em circuito antes que o assunto caísse no esquecimento.O sucesso dos filmes baseados em grandes crimes é compreensível, pois de certa forma o produto nacional naquele período cumpria a função hoje preenchida pelos documentários televisivos e pelo noticiário sensacionalista atual. |
|
Bibliografia | CANCLINI, Nestor Garcia (2008), Latin American Cinema as Industry and as Culture: its trasnational relocation. Keynote presented in Transnational Cinema in Globalising Societies Conference, Puebla, Mexico, September 29-31. 2008
|