ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Jean Cocteau: poesia, artes e cinema sob o signo da intermedialidade |
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Autor | Adalberto Muller Junior |
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Resumo Expandido | A obra de Jean Cocteau é de difícil classificação. Não apenas porque praticou ao logo de toda a sua vida a literatura – como poeta e como romancista – mas porque escreveu peças de teatro, peças para ballet, e desde a metade dos anos 20, com "Le sang d’un poète" (filme de vanguarda, da mesma estatura de "Le chien andalou") até o final de sua vida envolveu-se com o cinema, em todos os sentidos: foi roteirista e diretor de filmes como "A bela e a fera" e "Orfeu", mas também atuou em alguns de seus filmes; além do mais, escreveu roteiros para filmes de grandes nomes do cinema francês, como Jean Pierre Melville ("Les enfants terribles") e Robert Bresson ("Les dames du bois de boulogne"). Paralelamente a essas e outras muitas atividades criativas (como a de desenhista e pintor), desenvolveu um pensamento crítico sobre a poesia, sobre as artes e sobre o cinema, em vários textos ainda pouco estudados e comentados, sobretudo nos estudos de cinema. Haveria como pensar, de forma unitária, o conjunto dessa produção artística e intelectual? Acreditamos que o conceito de intermedialidade, tal como o vimos desenvolvendo em algumas publicações, é o único capaz de interpretar de modo menos disperso e fragmentário essa produção tão multifacetada. Queremos demonstrar, através da leitura de textos ensaísticos de Cocteau (onde ele desenvolve o conceito de poesia de cinema – que não se deve confundir com o conceito já por nós estudado de cinema de poesia, em Pier Paolo Pasolini – pode ser uma das vias-régias para se pensar a arte intermedial de Jean Cocteau. Para entender a matriz intermedial de sua arte, no entanto, será preciso entender a origem da obra de Cocteau enraizando-a tanto no contexto das "féeries" (espetáculos teatrais populares do século XIX, que serviram de modelo para os filmes de Méliès) e da arte de vanguarda (particularmente de alguns dos artistas com quem ele trabalhou nos anos 20, Picasso, Stravinski e Diaguilev). Sob esse prisma intermedial, é possível tentar compreender o instigante pensamento estético de Cocteau. Ao mesmo tempo, a leitura de Cocteau sob o prisma da intermedialidade permite fazer avançar o estudo das relações entre poesia e cinema, entre teatro e cinema, entre palavra e imagem. “L’écriture c’est de dessin noué autrement; et le dessin c’est un autre emploi de l’ecriture”, ele diz, definindo melhor do que ninguém essa unidade entre a criação da imagem e do texto. Do ponto de vista da intermedialidade, trata-se de comprender essa unidade do gesto (poesia) na diversidade das mídias (ou suportes, se preferirem). Ao fazê-lo, arrisca-se compreender, de soslaio, que entre mídias tão diversas e descontínuas) no modo de produção pode agir uma força de continuidade. Cocteau talvez seja um desses raros artistas que ousaram e puderam efetivamente cruzar as fronteiras midiáticas, fronteiras que o pensamento acadêmico, por sua necessidade de delimitação, tem grande dificuldade em entender do ponto de vista conceitual. Ora, é nesse ponto que um conceito transdisciplinar como o de intermedialidade pode ganhar importância, tornando legível a multiplicidade. Para os estudos de cinema, esse tipo de abordagem permitem situar e entender os filmes inquietantes de Jean Cocteau. Numa primeira etapa, nossa pesquisa toma como corpus de análise os textos crítico-teóricos de Cocteau sobre o cinema e os filmes "O sangue de um poeta" e "Orfeu", espelhos por onde se pode entrar no reino mágico de Jean Cocteau. |
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Bibliografia | BAZIN, André. Théâtre et cinema. In. Qu’est-ce que le cinéma?- II Les cinéma et les autres arts. Paris: Ed. Du CERF, 1959.
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