ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Aqui, tarados! - Os filmes de episódios da David Cardoso Produções. |
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Autor | Lucio De Franciscis dos Reis Piedade |
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Resumo Expandido | O trabalho pretende abordar uma parcela da produção de um dos mais bem sucedidos empreendimentos na trajetória da pornochanchada: a Dacar, ou David Cardoso Produções.
Natural de Maracaju, Mato Grosso (1943), José Darcy Cardoso não é só um sujeito esperto, mas corajoso também. Tanto que trocou uma promissora e segura carreira como galã de telenovelas pelas incertezas de abrir uma produtora para atuar na instável cena cinematográfica brasileira e se tornar “o rei da pornochanchada”. O resultado foi a Dacar, que de veículo para o estrelismo do ator, tornou-se certamente uma das mais rentáveis companhias que enveredaram na linha de filmes eróticos. Começando com Caçada Sangrenta (1974), atravessou a melhor fase da Boca do Lixo, até meados da década de 1980 quando se rendeu aos filmes de sexo explícito e amargou o conseqüente canto-do-cisne, derrotada pelo desgaste da fórmula e a concorrência do pornô estrangeiro. Cercado de talentosos colaboradores (como o prolífico Ody Fraga, John Doo, Luiz Castillini e Cláudio Portiolli), esmero técnico e, principalmente, as mulheres mais bonitas que pode amealhar e acabou transformando em estrelas populares (a calipígia Matilde Mastrangi, Patricia Scalvi, Helena Ramos, Alvamar Tadei, etc.), Cardoso não só conseguiu invejosas cifras nas bilheterias, como também foi responsável por algumas obras bastante singulares, não só pela ousadia, mas pelos temas abordados. Dessa filmografia, destacam-se os filmes divididos em dois ou três episódios (não era nenhuma novidade, diga-se de passagem), que serão objeto de análise deste recorte. Produção oportunista, destinada a tirar proveito da onda de filmes eróticos e aproveitar ao máximo a relação custo-benefício, iniciada a partir do sucesso de bilheteria A Noite das Taras (1980) – que de acordo com Ortiz Ramos “vai esticar ao limite o fio preso na mão da censura que já dá sinais de recuo”, segue com Aqui Tarados! (1981), Pornô (1981), A Noite das Taras 2 (1982) e Caçadas Eróticas (1984). Filmes que, mesmo irregulares sob o ponto de vista estrutural, são bastante atrevidos nas cenas de nudez, se aproximando das produções de sexo explícito que já se anunciavam e os sucederia em pouco tempo, proliferando rapidamente. Resultando do tino comercial de oferecer ao público na mesma sessão mais de uma história, a exemplo das famosas sessões duplas, os filmes de episódios da Dacar partem da interessante premissa de multiplicar o número de produções, investindo em filmes de menor duração e por sua vez com um ritmo narrativo mais ágil. Conferindo agilidade em oferecer novos títulos nas salas de exibição, rendimentos mais rápidos e um mercado de trabalho maior para os atores e técnicos envolvidos. Fórmula que deu certo, segundo o próprio Cardoso. Também são significativos exercícios de gêneros cinematográficos – notadamente a comédia, o policial e o horror (temas que eram raros nas realizações dos produtores e diretores da linha principal do cinema brasileiro) – que são reciclados e adaptados ao almejado entretenimento popular, sendo alguns desses episódios feitos com bastante esmero a partir de roteiros bem elaborados, como os excepcionais O Gafanhoto (de Pornô), Solo de Violino (de A Noite das Taras 2) e A Tia de André e O Pasteleiro (ambos de Aqui, Tarados!) Se essas produções da Dacar – como a pornochanchada em geral – perpetuam em algumas ocasiões a grande contradição do exploitation, a visão conservadora de que o sexo leva à perdição velada na exibição gratuita de nudez e sexo - evidentes chamarizes para um público ávido por sacanagem -, por vezes também transgridem as regras sobre as quais se alicerçam as produções eróticas, celebrando desse modo um cinema corajoso, de inventividade, iniciativa e independência que não só merece, como deve tomar seu lugar na história do audiovisual brasileiro. |
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Bibliografia | ABREU, Nuno Cesar. Boca do Lixo e Classes Populares. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2006.
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